sábado, 4 de setembro de 2010

Vol. I - I - bl. 4 (2/2)

[...]


A mãe de Coppi inclinou-se sobre a Cordilheira de Tauros, que ao norte limitava o Reino de Selêuco, o rei da Babilônia, a mão de Heilmann deslizava de Alexandria, do trono de Ptolomeu, para cima sobre o Mar ao centro, para onde se tornaria a Residência dos Atálidas. Para isso foi determinada o aumento da guarnição para proteger o trabalho do Governador, e Filetero logo percebia as possibilidades que seu cargo lhe concedia, ele que não mais queria servir a Lisímaco, mas sim fazer-lhe litigiosa a posição de monopólio. Ele tomou de assalto a torre da fortaleza onde estava guardado o cofre com nove mil talentos, correspondente a quantia de trinta e dois milhões de Marcos-ouro [Goldmark], e concentrou-se a arriscar logo como um recurso, cercando em todas as áreas de fortes grupos de servidores para a proteção seus interesses. As suas chamadas pretensões, ele poderia perguntar, como quando seu arruinado chefe lembrava-lhe a realização de deveres mais convenientes. Dele [de Lisímaco] nenhum perigo ameaçava Filetero, mas sim seu concorrente meridional, Selêuco, com o qual ele [Filetero] aceitou uma Aliança, que permanecia sob o signo do respeito mútuo, enquanto se conseguia um equilíbrio das potências militares. Acordo de amizade seria chamado, e com esta terminologia de gerência de mercado, ele estabeleceu um domínio de proteção sobre as cidades litorâneas, que após expulsar os Persas o imperador Alexandre tinha resgatado antigos direitos de autonomia. O lema que o grande conquistador tinha divulgado, que ele seguia para a restauração da Democracia e que os gregos tinham prioridade diante de todas as outras raças, vieram à propósito da Polis [cidade-Estado da Grécia clássica]. Durante sua marcha de dez anos pelo interior da Ásia, rumo ao Indo [rio da Índia] onde fundava bases militares e consolidadas posições de colonização para taxar-proporcionalmente sobretudo favorecidos mercadores gregos, e depois se alteram os chavões alexandrinos [as promessas de Alexandre]. Ele precisava dar ao seu Império mundial, do qual ele se apoderou em sua ambição pelo poder e imoderação, uma unidade e daí renunciava à discriminação racial. Seu discurso era de reconciliação, de uma reunião entre Ocidente e Oriente, de uma comunidade e união, e delineava-se como isso, no entanto, não mais que uma insaciável necessidade de triunfantes e consistentes batalhas, até o esgotamento, para torturar até a morte os potentados inimigos, ou recolher prisioneiros, para serem utilizados enquanto escravos, enquanto reforços para as tropas, e as mulheres entregues aos oficiais e meritórios soldados. Diz-se que Alexandre devido a sua morte prematura não tinha chegado a compreensão e se humilhado, pois para ele atacar era uma extrema histeria, que irrompia regularmente em revoltas de tropas impacientes. Era o mesmo tom que então notamos no Cabo [Gefreiter, a patente militar de Adolf Hitler] que tentava ascender à categoria de dominador mundial, ainda não foi alcançado, ele convenceu os hesitantes, cansados novamente ao seu lado, quando fazia-lhes promessas. Tivesse a febre não o arrebatado aos trinta anos, então ele afundaria, após um singular tempo de comoção, junto a enorme e insustentável estrutura [de seu Império] a desintegrar-se em toda parte. Ele [Alexandre] legou confusão, escombros e inimizade. Com o expandir do espírito de negociatas, Filetero permitiu a posse de terras e o domínio comercial, cuja subvenção ele precisou de início, a atribuir privilégios, quando latifúndios deviam ser ampliados, os negócios recebiam livre acesso às mercadorias coloniais, por um momento os cidadãos podiam se conservar sem prejuízos, pois a cobrança de tributos e juros de arrendamento mantinha ao custo de pequenos agricultores, artesãos e trabalhadores. Para os habitantes das cidades litorâneas, que outrora seriam absorvidas numa liga militar espartana ou ateniense, a um rei da Lídia, algum Almirante macedônico, trácio ou rodense, parecia que o impulso econômico estava iminente ao tempo da fundação do Império de Pérgamo, e era no interesse deles, que lá fortaleza o Regente se cercava de brilho e honrarias, a fazer-se cada vez mais importante, e assim mais respeitado pelos impérios vizinhos. Ainda não se percebia que ele tomava mais e mais da influência das Polis [entende-se: o poderio da Monarquia diminuía o exercício da Democracia]. Em cidades cercadas por muralhas mantinha-se a divisão de classes entre os cidadãos, expedicionários, soldados, libertos, e escravos dependentes de particulares, públicos ou principescos, os cidadãos tinham direito de expressão no aparente regime democrático, exercido por Assembleias legislativas das câmaras de Representantes e dos Conselhos, os integrantes das magistraturas poderiam ser eleitos pelo povo. Mercenários de estranha procedência, que provavam lealdade ao exército, recebiam a cidadania, aos oficiais eram repartidas propriedades rurais, e aos soldados, que tinham se destacado em batalhas, pedaços de terra, realizava-se a transição da sociedade grega de cidades-Estado [Stadtstaaten] para uma Monarquia helênica absoluta com a instrução de uma ampla camada populacional de possuidores, que um interesse tinham em lucrar com seu cereal cultivado, seu gado e seus pomares. A partir disso, o prudente Filetero revelou uma consideração nacional, a convocar a prontidão da defesa armada do Estado. Ele estava sujeito não apenas à cobiça dos reis do sul e do oriente, mas também precisava das comitivas das cidades e do países no total para a defesa contra os povos celtas, que, em períodos de seca e de afluência de germânicos deixavam os seus locais de morada na Gália, e refugiados seguiam o Danúbio através da Trácia e se derramavam no estreito marítimo até as regiões costeiras dos jônicos. A Dinastia dos Atálidas estabelecia-se, após Átalo, assim chamado por seu pai, que serviu à Alexandre no posto de general, pediu a Filetero uma salvaguarda dos Deuses e uma aliança com os Mitos, e se juntou aos soldados convocados em grande quantidade, para maior validade. Tal qual Alexandre outrora alegou ser um descendente de Hércules, assim ele dizia descender em linha direta de Télefo, o filho de Hércules, que, depois que sua mãe Auge morrera num naufrágio, tinha ele encontrado um abrigo na fortaleza de Pérgamo. Seria contar uma história de cinquenta anos durante os quais Filetero e seu irmão Eumenes lutaram contra os gauleses, até o seu sucessor livrar o país dos inimigos, e chegar a nomear-se Rei Átalo I, disse Heilmann, numa tentativa igual a de tentar explicar a confusão de um pesadelo. Ele queria, ao continuar, ainda nos motivos dessa fantasmagoria, a pesquisar suas fontes, que naturalmente permitiam nas mesmas relações ordenar os eventos, que causaria perplexidade aos nossos sucessores daqui a dois mil anos, o que acontecera conosco no último meio século. Os gauleses eram bebedores de cerveja, os helênicos tinham mais a ver com vinho, disse ele, daí antes de tudo a diferença básica, com a qual a população do país reconhecia os novos invasores, com suas tradições de guerra, com suas cornetas-de-chifres, eles vieram com suas famílias em colunas de carroças, eram quase mais brutais que os mercenários de outrora, que roubando e saqueando passaram pela região. Eles procuravam por regiões onde se estabelecer e onde pudessem cultivar o lúpulo, e assim como os abrigos deles haviam sido atacados, eles perseguiam outros em suas moradas. Não se aproximaram das cidades fortificadas, pois contentaram-se em cortar suas vias de acesso e exigir pedágio dos moradores, o que em caso de emergência era até legítimo, e além disso, correspondia a uma providência comum nestas épocas despóticas. Assim assediar os ricos centros de comércio, oferecendo proteção, recebendo pagamento em mercadorias, aqui e ali atacando os celeiros, ocupando os portos, ao expandir suas tribos no noroeste da Ásia Menor, enquanto se dirigiam às altas terras centrais, onde eles receberam um estado-livre meio aos frígios e capadócios, lá estavam os homens prontos para servirem no exército do rei da Bitínia e Ponto. Fossem na infantaria ou na cavalaria eles poderiam vender sua força de trabalho como a melhor de todas, e quando do noroeste, nos regimentos de Nikomedes e Mitrídates, marchavam de volta para o território de Pérgamo, onde nos exércitos dos Atálidas haviam outros seus parentes reunidos, que avançaram contra as clãs gaulesas no norte do país. Assim gauleses combateram contra gauleses, assim avançaram macedônios e trácios, persas e sírios uns contra os outros, e em todas as tropas reunidas encontravam-se mercenários vindos de Creta, Rodes e Chipre, e grupos de soldados dispersos de nômades da Mísia [na Anatólia / Ásia Menor], com seus chefes tribais, seus próprios deuses e cultos, e vindos das guerras de Alexandre o remanescente povo círtio [Cyrtier, eng. Cyrtians, povo medo-persa, possível antepassado dos curdos] vindo do distante Eufrates. Nestes conflitos foram recrutados os jovens do país, por uma dracma por dia, para mantimentos e bebidas, para dispensa de impostos e a garantia de que eles poderiam guardar o saque de guerra, e que o soldo caberia à família no caso da morte deles. Aos soldados concederam nenhuma pátria. Lá podiam discursar os promotores e oficiais, em suas funções sacras, que os soldados raramente sabiam os nomes dos senhores, sob cujos estandartes eles se uniam em combates. Enquanto soldados diaristas eles seguiram em marcha adiante, para alcançar a terra dos reis, os recursos minerais e as matérias-primas, e o mais importante meio-de-produção, os escravos. Eles, os trabalhadores, atacavam uns aos outros, para afundarem uns aos outros ainda mais na servidão, e assim eles estavam muitas vezes nas amargas empresas comerciais, nas quais também interferiram, aproveitando a posição dos selêucidas e dos ptolomaicos ao sul, no acampamento dos adversários. Para desviar dos verdadeiros objetivos dos ataques, os propagandistas de Pérgamo permitiram mais uma vez a gritaria solta sobre raças inferiores e selvagens, sobre os Bárbaros, que deviam ser eliminados, e o restante da propagada ilusão de Alexandre sobre uma convivência pacífica entre os povos foi abaixo nas praças do mercado, nos relatos sobre as depredações, pilhagens, profanações e saques incendiários dos estrangeiros. Atordoados pelo quadro de terror dos invasores, em pânico ampliado pela ameaça de serem jogados todos na escravidão, se eles não levassem seus sacrifícios para a vitória de Pérgamo, os cidadãos deram suas últimas reservas, os latifundiários, seus gados e suas colheitas. Há algum tempo definidos na administração os funcionários da Corte, os representantes não eram mais livremente eleitos, mas sim nomeados ao Conselho do príncipe, e os trabalhadores sabiam que não podiam compensar as perdas que seus senhores sofreram devido ao aumento dos tributos, e quem em breve se iniciava, meios as riquezas artísticas da culminante fase da alta Cultura, uma volta à antiga divisão de classe disposta numa flagrante segregação regredida numa pequena camada de privilegiados e numa massa amorfa, onde os cidadãos sem-poder, os comerciantes empobrecidos, e artesãos e escravos de todas as procedências se ajuntavam sempre mais uns aos outros numa toda abrangente pauperização. Outra coisa além de um sobrepor-se de golpes de uma constante e incitante brutalidade, disse Heilmann, indo e vindo diante da porta encoberta, ele não poderia imaginar no completar-se do absolutismo do reino de Pérgamo. Quantos de seus cem mil habitantes perderam a vida, os historiadores não informaram, porém eles mencionam, após a vitória na fonte de Kaikos, o número de quarenta mil prisioneiros gauleses, o que deixa inferir o múltiplo dos exterminados e dos refugiados nas montanhas orientais. No silêncio, entre as espessas paredes ao redor, nós escutávamos por algum momento, pois assim se ouvia o chocalhar de armaduras e armas, o abafado destacar-se, o estalar dos ferros penetrando na carne, e então, durante alguns segundos, bradaram as lutas próximas na cozinha, os elmos e as espadas reluziram sob a lâmpada, lá deixadas mortas as mulheres e as crianças dos guerreiros gauleses. A pacificação do reino, porém, disse Heilmann, foi, como esperada, apenas aparente, pois o acúmulo de escravos estrangeiros, a crescente exploração do povo devia criar desordem. Apoiado pelas famílias feudais, que já gerenciavam postos de comércio, por uma casta de oficiais e uma administração corrupta, Átalo, o Libertador, consolidou seu regime militar e preparou a política prática que permitiu a seu filho, Eumenes II, fazer Pérgamo ser famosa no mundo. Ele estabeleceu alianças com as quais ele poderia defender-se dos adversários meridionais, que após duas gerações, contudo, levaria sua linhagem ao fim. Em vez de envolver-se em hostilidades com os Romanos, que então avançavam rumo à hegemonia no Mar Mediterrâneo, pelos quais ele seria derrotado, ele ofereceu-lhes relações comerciais, permitiu-lhes o estabelecimento de feitorias, iniciou uma troca cultural e apoiou-os nas suas guerras de conquista na Macedônia, enquanto estes Pérgamo ajudava a derrotar Antíoco da Síria e Farnaque de Ponto. Sem o pacto com Roma não haveria o Templo de Zeus com os seus frisos, com notável estilo inovador, em liga contínua, até os muros externos. Durante quarenta anos, na assegurada paz através de conferências, através de ativo jogo diplomático, dedicaram-se ao intelecto nas duas últimas décadas do completo isolamento, a criarem com supremo esforço, a síntese do senso artístico de todo um século. Dependentes de Eumenes, que se nomeou o Benfeitor, e que de sua parte precisou das graças do Senado Romano, para deter os potenciais agressores, enquanto seu reino, que se estendia do Helesponto até Taurus, oferecia aos romanos uma proteção contra os agressivos Regentes asiáticos, negociando em missões que em seu exercício do poder deviam limitar a expansão das obras de Arte a um pequeno círculo de privilégios, amplamente cercados de sujeição, desordem e debilidade, enquanto os escultores executavam uma obra, que desafiava todas as modernas [daquela época] condições com qualidades peculiares. Não que se negasse suas realizações, claramente para elas apontavam, a quem valia enaltecer e a quem humilhar, porém nós lembramos agora que as pedras trabalhadas, assim com as feições rígidas e frias dos deuses, em aparências irreais em suas dimensões de distanciamento, enquanto vitimadas, apesar de todas as deformidades continuaram humanas, marcadas por angústias e sofrimentos. Porém permaneceram os mestres por sua vez, perguntou Coppi, abertos para a revolta, que nos Estados [Polis, cidade-Estado] ferviam, ou assumiam a luta de antagonismo, a separação, o rebelar-se enquanto incentivo para as esculpidas formas, movimentos, contrastes. Eles deviam saber de Aristonikos, o filho de Eumenes e uma concubina nascida em Éfeso, filha de um tocador de harpa, deste excluído da sucessão [ao trono], que se aproximava do povo e experimentava a situação emergencial, disse Heilmann. Eles deviam conhecer os preparativos, que Aristonikos acertava, para agir junto aos camponeses sem terra, os soldados descontentes, os escravos contra a soberania dos enganadores e ladrões e então fundar um Estado justo. Um revoltar-se que não foi novidade, nas colônias helênicas os escravos se rebelavam, em Kassandra os pobres tinham antes se revoltado, e em Esparta logo voltariam atrás os patriarcas macedônicos com a rebelião de Agis e Kleomenes. O declínio, ao qual se resignava a supremacia de Pérgamos, agora se processava, enquanto o poderio deles vivia a última ascensão. Na polarização social não venceram as forças que desejavam provocar um avanço social, mas ao contrário o conservadorismo seguido de autodestruição. Desde muito tempo estavam prontas as coortes romanas ['coortes' eram subdivisiões da 'legião'; cada 'coorte' reunia cerca de 500 soldados], a esperar de seus núncios as ordens para marchar, porém antes que se desse um momento oportuno para o ataque, eles receberam um chamado de Átalo III, filho de Eumenes, legítimo sucessor do trono, último da linhagem dos Átalidas, para atuar no país contra seu meio-irmão, pois ele [Átalo] preferia entregar a eles [os romanos] o reino do que ficar sob uma soberania popular. Os generais romanos tinham enquanto isso, em Corinto e Cartago demonstrado o que eles entendiam por Império [ou domínio imperial] e com um olhar sobre os amplos planos eles chamaram de Ásia aquela aquisição helênica. Após a transferência de forças armadas, a instalação de prefeituras e tributos sobre renda, após a trituração de exércitos invasores vindos do leste e do sul e o posicionamento de redes de fortificações através de Sulla, de onde veio Antonio e mandou vir da Biblioteca de Pérgamo o saber enrolado em pergaminho a ser carregado para Alexandria, como presente de casamento para Cleópatra, sua Ísis, sua Rainha dos Reis, e a estátua dele, como Deus e Benfeitor, assim como os monumentos e colunas de Trajano e Adriano se destacaram logo meio às relíquias de esquecidas majestades e divindades. Novos templos, para o culto de Roma e de seu César, surgiram a partir dos alicerces dos palácios dos Atálidas, e prédios colossais, arenas, termas para terapia de saúde, cercadas de montanhas, e lá acima os banhos de lama de Caracalla, próximos às apresentações teatrais, aos espetáculos musicais e de dança, aos concursos artísticos e discursos eruditos, se apresentam classes e nomes, e abaixo, sob os canos de esgoto das vielas, nos estaleiros trabalhando sob alta pressão, em ferrarias e manufaturas, os plebeus tombavam sob o chicote e por exaustão. Contudo, o poder romano, com seus rápidos golpes baixos, seus passos furiosos, seus agiotas, seu bem organizado militarismo, não era contra o sistema mantido por Bizâncio [o Império Bizantino, ou Romano do Oriente; também o termo 'bizantinismo' expressa a política autocrática ou retórica, complexa e instável]. Sob os Romanos houveram pelo menos tentativas de reforma, ao manter-se o interesse pela educação, ao incentivarem professores, médicos, cientistas, no Império Bizantino, porém, revelaram-se as últimas forças a serem celebradas com imensa pompa vazia, e sobre os oprimidos se empilhou a hierarquia da nobreza espiritual e secular, cercada de aduladores e bajuladores, impalpável na furtiva dignidade deles, incomum para o crime deles. As grandes mãos ossudas sobre o joelho, as pernas, com inchadas veias azuladas, uma junto a outra na bacia mantidas, disse a mãe de Coppi, que ela se perguntava, se não sob o fardo do tormento, com o que o competir das obras-de-arte foram pagas, eis o que para todas as épocas se devia conceder algo de repulsivo. Ela entenderia também os queimadores de cal, que os fornos deles instalaram próximos aos sedimentos de antigos santuários. As ruínas de capitel, cornijas e estátuas foram para eles apenas uma pedreira de mármore, e se vez ou outra ele viam uma face, um corpo, um animal nos blocos quebrados, eles não haviam de se incomodar, a pensarem que, sobretudo, no cal ficaram presas. O mesmo quanto aos muros onde foram ajustados os blocos de pedra lavrada para construções, pois foram usadas pelos queimadores de cal como matéria-prima para a produção de argamassa comercializada. Desde séculos era a cal fabricada a partir da fartura dos destroços de mármore, e todo um trabalho manual, a incluir o transporte em modestas carroças para as aldeias nos arredores, que a chegada de um engenheiro instruído em arqueologia veio interromper. A mãe de Coppi queria saber, se então os queimadores de cal foram indenizados depois que Humann [Carl H., 1839-1896, engenheiro alemão], que construiu em pedido do governo turco uma estrada através da Ásia Menor ocidental, e descobriu durante uma excursão nas terras altas as antigas ruínas, e expulsou os trabalhadores do local da descoberta. Eles deviam, disse Heilmann, por ordem do Grão-Visir Fuad Paxá [do Império Otomano], seguir, com seus equipamentos, para o leste, nas montanhas, das quais eles, como foi dito, procediam e que outrora pertencera a uma região de nome Galácia colonizada pelos refugiados celtas. Outra vez executou-se a remoção dos barbudos preformados, que aos Gigantes tinham dado aparência. Eles, os vivos, perderam-se na estepe, deserto e pedregulhos, de modo que a pedra pudesse despertar. Em setembro de mil oitocentos e setenta e um, numa manhã clara, após uma noite brumosa entre ciprestes e amoreiras, Humann esfregou a areia do cabelo enrugado, das órbitas dos olhos, da sofrida boca aberta do filho de Ge [Gaia], que na terra árida ficou enterrado. Ele passou longo tempo com preparações e pequenas escavações, antes que ele em junho de setenta e oito pudesse começar com o trabalho propriamente dito. Quem patrocinou o empreendimento, perguntou a mãe de Coppi, e quanto custou. No primeiro período, calculado em vinte e cinco dias, disse Heilmann, o Humann manteve vinte trabalhadores, a maioria búlgaros, no encargo. O salário deles por este período chegou ao total de oitocentos marcos. O capataz recebeu cem marcos. Quinhentos marcos foram estimados para ferramentas e equipamentos técnicos. Os honorários de Humann chegaram a mil marcos. Com os custos de viagem e outras despesas chegaram os gastos a três mil marcos. O dinheiro veio, depois que Sua Alteza real e imperial Frederico Guilherme [Friedrich Wilhelm, Frederico III, 1831-1888], o príncipe-herdeiro [Konprinz], ter se interessado pelo propósito, veio das reservas financeiras da realeza. Após a vitória sobre a França, a coroação do rei prussiano à Imperador [Kaiser] e a fundação do Império Alemão [Deutschen Reich] e após, em Paris, ter sido esmagada ameaça ao Capital(ismo), a Comuna [governo popular de resistência contra os franceses derrotistas e os alemães invasores; resistiu durante quarenta dias, quando os communards foram massacrados], manteve-se a época da expansão industrial, o controle sobre o continente, e a capital, a sede da Corte, exigiu para os tesouros, o que poderia se destacar de forma artística ao monarca e senhores-coloniais. Assim, não se interromperam as escavações no monte de Pérgamo, continuaram mesmo com a guerra entre Turquia e Rússia. De início seriam entregues um terço das obras de arte ao descobridor e dois terços ao estado turco; em sua condição de dependência porém o governo do Grão-Visir [Großwesirat] disse em Constantinopla que dois terços seriam para o governo do Kaiser, e depois desistiu também do último terço, mediante uma remuneração de vinte mil marcos e o pagamento de uma contribuição de igual soma para a necessitada população do país. Ao término da revelação da cidade alta [Burgberg] e do translado de mais de mil caixas cheias de placas de frisos, colunas e esculturas para o museu construído por Schinkel [Karl Friedrich S., arquiteto prussiano, 1781-1841], no ano de oitenta e seis [1886], foram entregues para o mármore de Pérgamo trezentos mil marcos vindos das reservas financeiras e do orçamento estatal para a Cultura [Kulturbudget], até uma quantia reduzida em comparação com a aquisição de outra Arte e em proporção ao valor recuperado. E porém, pode ser ao que, e é até cruel, nunca ser incluída a beleza, disse a mãe de Coppi, e então do poço do pátio subiram gritos, chamados, janelas foram golpeadas, portas batidas, o zelador tinha descoberto um brilho de luz, devido ao ordenado escurecimento por exercício de proteção contra ataques aéreos [Luftschutzübung], e fez-se na escadaria um tumulto, e nós nos sentamos todos quietos, a ouvir como, de repente, uma raiva sufocada, um desgosto acumulado, uma fúria reprimida explodia, a irromper em clamor e vozerio e do mesmo modo rapidamente ser censurada. Alguém seguiu furtivamente lá fora sob os degraus, Febe, a toda brilhante radiante, a mirar com a tocha ardente diante das faces dos recuados Gigantes alados, e Asteria, sua filha, a luminosa divindade estelar, agarrou pelos cabelos o adversário, golpeado e mordido na perna por um cão de caça, e empurrou-o, ele que não podia impedi-la, com a mão derrotada em seu braço, que ela enfiasse uma espada através da clavícula até ao peito dele. Assim, ela uniu-se a todos, os Divinos, em gestos de supremacia, Leto a golpear tal um lança-chamas sobre os derrotados, enquanto mantinha os pés no firme quadril de Tício de boca gritante, e ela superou-se em glória enquanto mãe de Artemis e de Apolo, enquanto o Selvagem, o rebelde haveria de expiar para sempre nos Infernos, devorado por abutres. Afrodite, deusa do Amor e da Beleza, forçou suas ricas adornadas sandálias sobre a testa de Chtonios, deitado sobre um monte de mortos, para arrancar, com toda força, a lança do corpo dele, o decaído demônio que logo apodreceria, a tornar-se nutrição para as plantas da floresta, porém, à nascida da espuma [Afrodite], foram previstas inumeráveis vitórias e inesgotável veneração, por escolha das Moiras, que fiam a linha da vida, e repartem o destino das vidas e podem deter a extensão [do fio da vida], a fulminar vítimas, enquanto a lisura das faces delas mantinha impassível sobre a tormenta da guerra, carência e terror, que as caçadoras provocavam, a deixarem para trás os cadáveres, e Hécate, a auxiliadora, provida de três pares de braços, três cabeças, apontou, protegida por um grande escudo, bastão de fogo, lança e espada, para o gigante grandalhão, cuja mão agarrava um bloco de pedra como se fosse um míssil, e cuja feição do rosto previa a inescapável condição de derrota. Com pedras apenas, disse a mãe de Coppi, poderiam eles se defender contra os blindados e aqueles pesadamente armados, eles que se ajoelhavam, se arrastavam, se partiam, caídos no dilacerado calçamento das ruas, expostos aos canhões de água, bombas de gás e metralhadoras. Eles viam a luta em nossa cidade ocupada, nosso país dominado, e ajudou em nada, que Ge [Gaia] para implorar compaixão para seu filho Alcioneu, pois ele estava no poder de Atena, que a ele a mordida mortal da serpente em seu peito não foi suficiente, para ela que desejava a completa destruição dele. Os desarmados foram condenados ao extermínio, a se arrastarem juntos atrás das barricadas, e condenados pelos Escolhidos, que ostentavam nomes impressionantes que se propagavam por toda parte, e considerados imbatíveis, a constituírem uma suprema ordem mundial. Ela [a mãe de Coppi] observou, após ter esvaziado a tijela, ao inclinar-se sentando-se na cadeira, com a toalha de mão sobre as pernas, em contraponto às nossas irreais, sombrias projeções, em nossas descrições em todo lugar apenas o triunfo do torturador distinguindo-se sobre o tumulto dos desprovidos de poder. E, após longo silêncio, disse Heilmann que obras como aquelas, que vinham de Pérgamo, sempre deviam ficar expostas, até uma reversão finalmente vencer e os terrestres despertarem das trevas e da escuridão e mostrarem-se em aparência autêntica.
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[pausa]

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LdeM
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sábado, 28 de agosto de 2010

Vol I - I - bloco 4 (1/2)





Volume I


I


bloco 4




As pegadas úmidas no linóleo verde-escuro mostravam o trajeto que a mãe de Coppi deixara ao ir esvaziar a tigela sobre a pia e para reencher o bule de água quente sobre o fogão. O altar, que então se mostrara para nós lá no museu, ela disse, a trazer novamente a tigela, era um pedaço da propriedade dos reis, que podemos, se tivermos tempo, imaginar como eram, a compreender o que significam, antes de tudo, queremos isso reivindicar, isso tudo recuperar, tudo o que não foi ensinado na escola. Porém, para nós é difícil, ela disse, enquanto se acomodava a mergulhar os pés novamente na bacia, mesmo ter aprendido a ler e escrever, e os aspectos das imagens era algo, em geral, não pensado. Para a maioria de nós tais figuras de mármore tinham nenhum outro valor tal qual os gigantes sob o portal, e de deixar perplexo como foram desmembradas pelos construtores que naquele tempo usavam os blocos ao construírem novos muros. Assim eles fizeram, ao retirar as pedras das muralhas, pois era mais prático, e não precisariam arrastar até lá encima as pedras desde o vale, ao contrário, podiam ir mais perto buscar, além disso deviam mais rapidamente ser arranjadas, pois o inimigo avança em marcha, a ameaçar a fortaleza. Cada vez quando eu seguia entre os Atlantes, me dava pena, eu queria que eles finalmente se livrassem de seus fardos, permitir-se ninguém a ficar curvado sob os portais a lembrar-nos um peculiar trabalho pesado. Seria de lançarmos estes ao meio da rua, como se fossem barricadas, se assim fizesse sentido. Para os trabalhadores na fortaleza aqueles blocos eram nada além de material de construção, eles construíam muros com um plano inclinado escorregadio, e cortavam fora cabeças e membros, porque todo sobressalente impedia os encaixes. Como devemos, ela perguntou, sair disso, se para nós toda essa construção apenas foi cimentada com trabalho penoso e sacrifício, a ser fúria reprimida por aqueles que com estas obras se vangloriavam. E como devemos então ainda dizer que as resgatadas ruínas representa algo que enriqueça nosso modo de pensar. Para os muçulmanos, disse Heilmann, que antes haviam invadido Pérgamo e se reuniram para novos ataques, a obra artística helênica era coisa de bárbaros assim como aos bizantinos, que defendiam a posse dos frisos. Os árabes tinham ao menos razão ao destruírem as construções, pois eles vieram como conquistadores, e o devastar pertencia a lei marcial [Kriegsrecht], os dominadores bizantinos porém usaram a legítima defesa, para arrasarem o restos pagãos. Cortaram as faces dos deuses, pouparam os filhos-da-terra, terrestres [Erdensöhne]. Ambos, os islâmicos e os cristãos, destruíram o que suas religiões rejeitavam, o que para ele era estranho/repulsivo, tinha dado um sentido para as culturas de outrora na sofisticada Pérgamo. Assim como nós poderíamos concluir quanto aos Atletas em tangas sobre o tempo no qual que eles se originaram, e com eles a falsidade do industrialismo, que precisa recolher novos escravos, assim o estatuário dos frisos levava-nos a uma época, a ensinar-nos sobre as origens da sociedade, da qual nos encontramos nos últimos excessos. Debatíamos o que Pérgamo desejava apresentar, como se originou, de que modo decaiu e como superou tais estágios, e junto de cada sentença havia algo a aprender do pensar e do falar contemporâneo, para ultrapassar a lacuna entre a descoberta e o estupefação. Com sua autoridade, a desejar ser uma segunda Atenas, Pérgamo recebia os deuses da pátria. A gigantesca estátua de Athena, aquela com ouro e marfim enfeitada estátua modelada por Fídias, elevava-se no pátio interno da Biblioteca, na qual as galerias em arcadas entre bordas de pedra, acima dos leques de madeira, duzentos mil pergaminhos eram conservados. No sentido das tradições eram como compiladas coleções-de-Arte, com cópias de obras clássicas e com originais negociados ou saqueados em expedições militares. Foi o capacitar de um retrospecto além do desempenho de outros séculos que dava à elite de Pérgamo a consciência de pertencer a um novo tempo. Os ensinos de Anaximandro e Thales vindo da cidade vizinha de Mileto foram os bens culturais fundamentais para a mentalidade vital de caráter materialista. Os dois grandes acontecimentos dos pensadores de Pérgamo foi terem sido menos filósofos do que construtores, naturalistas, matemáticos, astrônomos e políticos. Eles pertenciam a classe dos comerciantes e navegadores, e suas investigações sempre partiram de tarefas concretas. Pontes, portos e fortificações deviam ser construídos. Concorrentes haviam a eliminar, expansões inimigas a refrear. Meios de transporte sobre terra e mar para ampliar, matérias-primas a explorar, colônias a conquistar, e para estes objetivos eles deviam então conhecer as funções dos elementos e o mundo de um certo modo esclarecer, que além de renunciado todos os excessos em místicas regiões. Coppi, por causa disso, todo ordenamento divino havia muito tempo era apenas um elemento da Superestrutura [Überbau] dos Regentes para ser utilizado em intimidações, igual atualmente a religião, com que o esclarecido adormeceu o desconhecido. Ao povo ficou o simples, o singelo, o descomplicado, a esperança num Além, que a eles por toda as misérias recompensaria, a confiança na bondade e auxílio do Invisível e o medo diante do irado e punitivo [Deus], que vigiava cada pensamento revoltado deles. A Elite tinha se libertado de tais superstições, e zombava da infantilidade das classes inferiores e pôde aceitar que nos passeios dos pastores, dos colhedores de vinhedos, que destes analfabetos poderia vir alguma expressão poética. Para os eruditos não havia qualquer Existência após a morte, e eles deviam tudo conquistar aqui mesmo no tempo de vida. A lacuna entre as classes era uma lacuna entre os diversos domínios do conhecimento. O mundo era para ambos o mesmo, o mesmo céu azul, o mesmo verde das árvores, os mesmos cursos d'águas, as mesmas pedras estavam lá para se ver, porém separados dos servos, dos não-educados, a dizer-lhes que as coisas em si não se alteravam, e ajuntavam valores e funções, enquanto utilizam o talento dos iniciados. Quem acreditava que a Terra era uma porção rodeada por um fluxo do oceano, que as lanternas dos Deuses foram arrancadas do meio da noite, quem acreditava que Selene com seus iluminante ou escurecente espelho lunar determinava a facilidade ou gravidade dos eventos futuros e que Posêidon soprava as ondas até as praias e aos navegantes arremessava raios desde as nuvens, eles não se arriscavam sozinhos nas vastidões, mas se entregavam a proteção de líderes e das forças armadas. A madeira, o fogo, o trigo, os minerais e os metais tinham a mesma aparência aos daqueles que trabalhavam as coisas com as ferramentas, e aqueles que recebiam o produzido e colhido, o privilégio dos últimos estava justamente aí, pois eles podiam logo calcular os lucros legais, pois deles era o solo, que entregavam aos requerentes, e deixavam ao Mercado o que havia para vender. O servo mantinha o pesado pedaço de ferro numa mão e a leve folha na outra, ele via as minas e o esplendor dos grãos e fios, dos galhos os tênues tecidos arrancados, desde as fendidas ravinas erguidos os torrões de terra, expostos à luz, o que o senhor-de-terra observava, ele que sabia que a matéria seria composta de minúsculas partículas, os átomos que, numa variedade de qualidades e relações, davam forma a todos os fenômenos [teorias de Demócrito]. Ele, o senhor, seguiu também sobre a mesma terra que o servo, seguia olhando para o longe, sobre a ampla curvatura, com suas colinas, seus bandos de aves, e névoas flutuantes sobre as serras, assim ele percebia toda uma outra dimensão que aquele que vivia nas cabanas. Ele tinha, movido por impulso, que entender o que ele precisava, nos passos dados na quadridimensional percepção do espaço, segundo a qual o plano da Terra se encurva, numa tal curvatura onde havia a possibilidade de ao seguir-se uma linha reta poder retornar-se ao ponto de partida, a perceber que tudo se situava num Infindo além da esfera girante, que juntamente com outras esferas/globos girava ao redor do Sol, tal pensamento estabelecia uma proporção para o tempo [períodos astronômicos]. Estendido deitado, nas noites claras, junto ao mar Egeu, e no Egito, a registrar as posições das estrelas numa Carta Celeste, assim a conhecer as regras, segundo o crescer e decrescer da luz lunar, ele estabeleceu seu Calendário, calculando com exatidão o período da rotação da Terra, o período da circulação da lua ao redor da Terra, a translação da Terra ao redor do Sol e a procedência do Sol, com seus planetas, ao sistema de milhões de estrelas, que ao todo, na mais externa distância condensou-se leitoso, sendo formado um gigantesco anel, como se também o Infindo fechado em si mesmo [teorias de Hiparco]. Assim como ele [o senhor, a Elite] entendia o que ele precisava, também conservava a explicação mais simples. Outrora havia sido simples e verdadeiro que os Deuses tinham criado o Mundo, com toda a vida nele, no entanto, ao avançar a extensão do olhar para além de montanhas e mares lá acima era de ficar com vertigens e não apenas uma vez aos pensamentos de que a Terra, deixada só pelos Deuses, com ele voava pelo Cosmos. De um poço na cidade egípcia de Siena ele localizou no zênite o sol fixo na vertical. O fio do prumo facilitou a linha, que permitia ser traçada do astro incandescente até o ponto médio da Terra [Erdmittelpunkt]. Então ele sabia que os raios do Sol chegavam paralelos a Terra, logo devia a mediação para a mesma hora na cidade de Alexandria situada ao norte dos raios incididos e aos perpendiculares traçados formar um ângulo. Com o auxílio destes ângulos e a distância entre ambos os lugares foi possível encontrar o grau do ângulo da curvatura da Terra e então calcular a circunferência da Terra, quase no quilômetro exato [cálculo de Erastóstenes]. Porém assim ele aqui, no Talmude [compilação de leis e tradições judaicas], junto aos olivais, a conservar as causas do escurecimento da Lua, do eclipse do Sol, da maré baixa e da maré alta, da tempestade e da chuva, contudo ele não mencionou como a massa de matéria primordial [Urstoff] tinha outrora se separado do Universo e no vazio um com o outro tinha se unido, como mundos foram gerados através de colisões e novamente tinham sido destruídos, antes que o torrão-em-brasa [Glutklumpen] da Terra formasse uma crosta, as tormentas de chamas fossem extinguidas, os continentes emergissem da água fervente e na lama se desenvolvessem os primeiros seres semelhantes a peixes, a partir dos quais o ser humano se originaria. O dinamismo de tudo, diga-se, quando depois seria de se perguntar qual o sentido da Existência, seja a lei da Necessidade, e quem havia decidido esta lei, que estabeleceu também, com sua livre vontade. A tarefa destes cidadãos-livres era, daí em diante, unicamente um cumpri-se da Necessidade. Por impulso, a propriedade multiplicar, daí ter explorado até a gélida ilha de Thule ao norte e até o cabo africano ao sul, para oeste até além das colunas de Hércules [Gibraltar] e para leste até o o multiramificado rio Ganges, enquanto o camponês, competindo desajeitado, perambulava na lavoura, sem pedaço de campo. E o forçado preso sentava-se no banco do remador, lá embaixo nas galeras, a ele nada era dado além de ficar atento ao recuo quando do bater do tambor daquele escravo que transmite o ritmo, seguindo as ordens daqueles que ficam no convés onde o navegador possuía as amplidões dos mares com suas correntezas, monções e ventos alísios, os quais ele utiliza em suas viagens cíclicas, com sua posição determinada pelas constelações. Para os não-livres foi sempre dado apenas o que estava imediatamente diante dele, e tinha consumido todos os esforços para ficar assim. Aos cidadãos-livres era dada uma constante expectativa do novo, ele [cidadão-livre] desenha o contorno dos litorais e as formações geográficas, estabelece rotas de navegação, descobertas de matérias-primas, possibilidades de comércio. Aqueles condenados ao serviço definhavam depressa na monotonia, enquanto ele [o cidadão-livre] se rejuvenescia ao se dedicar às iniciativas e mudanças. Ele não precisava se submeter ao sacerdote, em rezas por cura e restabelecimento quando em doença, pois os médicos tinham explicado a ele o funcionar dos órgãos, do pulso, da circulação sanguínea e dos nervos, além de preparar para ele todo os tipos de medicamentos. Os não-proprietários precisavam dos altares dos deuses da fecundidade e do clima, das altas e baixas regiões do mundo, de regiões estas que eles raramente conheciam além dos nomes, estas vítimas , além disso, deixadas à carência em plena fartura. Aos proprietários era tudo desejado manter, através de dinheiro em moedas, através de bancos, através de tropas expedicionárias. Seus filósofos acreditavam que o dar-e-receber [give-and-take: fazer concessões], que o constante um contra os outros e o misturar de uns aos outros correspondia ao ser/essência de todos os seres vivos, cada coisa seria modelada através da junção e separação, diluição e compressão, atração e repulsão, havia nenhuma matéria que não consistisse de pares em antagonismo. Assim como o perceber do mundo representava domínio, assim era o dominar ligado ao direito ao poder e autoridade. Com seus depósitos abarrotados, seus navios carregados de cargas, suas casas de campo, palácios e tesouros artísticos comprovavam os empreendedores a eficácia de suas ações. Eles se mantinham ao lado do progresso, eles distribuíam o trabalho, eles buscavam por perto aquilo de que precisavam, eles demitiam quem a eles não mais servia, eles abriam oficinas e fábricas, eles incentivavam – depois que as rivais autoridades egípcias tinham proibido a exportação de papiro – a fabricação de peles para escrita [pergaminhos] daí em diante, e desenvolveram a técnica de tintura das lãs de ovelhas. Tecelãs, fabricantes de sandálias, alfaiates e ferreiros estavam à serviço deles [os empreendedores], suas caravanas negociavam da China, marfim, jade, seda, porcelana, da Índia, especiarias, temperos/aromatizantes, unguentos e pérolas. Para os seus estaleiros eles mandavam trazer a madeira das altas florestas, eles exigiram extrair cobre e minério de ferro, ouro e prata, resguardar o gado, criar os cavalos e recolher os grãos e o trigo, cuja fartura conferiria à região deles o status de celeiro da Ásia Menor. Então, naquele tempo, disse Coppi, formavam a vanguarda, que nos conduzem adiante e que sempre novamente nos colocam diante do fato que tudo o que usávamos era produzido acima de nós e o fato é que quando em geral acessível, parecia vir de cima, mais do que dado pelo nosso próprio trabalho [o trabalhador não reconhece o fruto do seu trabalho: alienação]. Desejamos adotar a Arte, a Literatura, assim devíamos discutir os limites destas, isto é, nós devíamos neutralizar todos os privilégios que estão ligados a estas, e então inserir as nossas próprias exigências nestas. Virá por nós mesmo, disse Heilmann, temos não apenas de modelo novo criar a cultura, mas também completos estudos, nos quais adequar em relação ao que não diz respeito [relativo a nós mesmos; não uma pesquisa elitista, mas democrática]. Nós temos tudo conhecido sobre a forma de nossos planetas e o lugar que ocupam no espaço cósmico, mas para nós tem isto estado fora, excêntrico, aos conhecimentos básicos. Quando comentamos que a Terra é redonda e gira ao redor de si mesma, então nós comprovamos com isto que há proprietários e não-proprietários. Nós mencionamos os princípios básicos dos sistemas físicos, mas a depender de uma divisão do trabalho em quem trabalha na prática e quem administra [in Ausübende und Eintreiber], que é tão antiga quanto a Ciência. Ao adotar as imagens-de-mundo estabelecidas por antigos pesquisadores, em sua completa extensão, é sempre também a expressão da relação às regras estabelecidas das condições sociais. Então quando na representação de que nos situamos sobre uma esfera girante, com tudo isso esquecemos as relacionadas auto-compreensões, a deixar se entender a atrocidade que ordenou o nosso pensar. Dois mil anos passaram-se desde o ápice do Império de Pérgamo, porém ainda quase um século depois do Manifesto [Comunista], as Elites, que sempre temos conservado no poder, exigem para si todas as conquistas. Então, naquele tempo, iniciou-se logo a decadência, mas ainda seguia além a ideia de eleição e a ordem de submissão, que não puderam trazer os trabalhadores ao entendimento, que sempre eram conduzidos em cada avanço a um novo estágio social. Acima da montanha sobre os férteis campos da Mísia [na Anatólia / Ásia Menor], sobre a movimentação do porto de Elea, lá se dedicavam os nobres da cidade alta às suas habilidades, quando eram explicadas as perguntas básicas sobre o mecanismo do mundo, o governo vigiava a interação da exploração e do lucro, os negócios eram conduzidos por especialistas, o governo tinha, junto aos latifúndios, burocratas e funcionários à seu serviço, que cuidavam da continuação da produção, o arrendamento aos pequenos donos-de-terra, dos quais os impostos no vilarejo eram recolhidos, muitas vezes sob a opressão das tropas das guarnições, o Magistrado preocupava-se quanto a ordem nas cidades, a política externa era exercida pelo Alto Conselho, e nas grandes fazendas, salões e galerias dos ginásios, originalmente construídas para o treinamento dos jovens para o serviço militar [Wehrdienst], lá poderiam os professores e alunos se dedicarem sossegados à cada disciplina, ainda rigorosamente organizadas, constantes, inesgotáveis, em Épico, Poesia elegíaca e Lírica, Pintura e Escultura, Música, Dança e Drama, Canto e Caligrafia. E para atraírmos a Arte para nós, devíamos nos dirigir aos muros alvos brilhantes, junto aos ciprestes e canteiros de flores nos cumes acidentados, lá seguiam seu próprio modo de vida. Os diretores das Academias denominavam-se Cépticos, cuja tarefa era o Investigar, o Pensar e o Duvidar, e usavam o título de honra de Críticos, porque eles não aceitavam, sem analisar e fazer modificação. Eles sabiam, devido a competência deles no mundo do poder, como deviam manobrar, diante de uma questão, pois sabiam avançar nos âmbitos intelectuais até então desconhecidos, porque o solo no qual eles se encontravam, estava estabilizado e sistematizado. Se nós junto a um tal auto-aperfeiçoado como Crates [de Tebas, século III a. C.] permanecia, disse Heilmann, em seu próprio local escolhido, e nele prestávamos atenção, o modo de sua fala, a notar cada palavra, de como ele brandia seu caderno escolar sob a lâmpada da cozinha. Os críticos literários tinham, de acordo com Crates, três tarefas, a primeira, apurar a Dicção, a Sintaxe e a Estrutura das frases, a segunda, avaliar a Fonética, o Idiomático, o Estilo e as Figuras, e a terceira, submeter-se às ideias e imagens utilizadas de um juízo histórico. Para ele [Crates de Tebas] e sua escola as constatações de qualidade linguística apenas deviam ser conquistadas, tirando-as das trevas para um esclarecimento racional, onde cada afirmação era comparada, por isso, com observações empiristas e experiências práticas. Uma ampliação das fronteiras da representação realizou-se na base da Lógica, e logo o que era desconhecido recebeu Nomeação e Formulação. Foi também sempre ao Entender da prioridade própria para a percepção das Maravilhas, que a Arte era uma Ciência, tal qual a Geometria e a Estática. Assim se sucediam os Sábios na Corte de Pérgamo com as mesmas perspectivas, que haviam sido criados por naturalistas de outrora, tudo era equilibrado por sua utilidade, quando definiram as Regras, que dois milênio mais tarde ainda são válidas, elas serviram ao desenvolvimento do Intelecto, e junto também elas serviram para darem forma ao Intelecto em desenvolvimento. Este Império do Intelecto era formado através da Autoridade, cada declaração da Arte, da Filosofia era baseado na Autoridade. E quanto maior, mais alto era o alcançado, tanto mais furioso era exercido o Domínio da Brutalidade. Apenas poucas décadas durou o apogeu do Império de Pérgamo, e depois seguiram-se mais de cem anos de constantes guerras. Eis a amostra, ainda em geral correspondente a atual organização do Estado. As leis da antiga sociedade escravocrata ainda persistem. Apesar de todas as revoltas ainda a maioria do povo sempre devia novamente desfilar para a Elite. Mais de dois mil anos passaram-se desde os convocados filhos de camponeses, que nas operações de guerra fizeram prisioneiros deixaram-se levar por seus comandantes em ziguezague por toda a Ásia Menor a sangrarem nas batalhas, que levavam a queda de um usurpador apenas para a ascensão de outros usurpadores. Vinte anos antes foram os nossos pais a escaparem de massacres, e muito curto o período desde Outubro [Revolução Russa de 1917], quando deu-se o sinal para um novo começo, após uma longa pré-História de homicídios. A Elite sempre buscou os seus direitos, sempre assegurou a sua Hegemonia, até outro Potentado vir em substituição, o que não evitamos, a fazer concessões, e volta a persistir em ressurgente Tirania, que jamais tínhamos visto. Em nossa trancada cozinha mostra-se para nós o Continente tal como Alexandre [Magno, Imperador da Macedônia, Pérsia e Egito] tinha-o legado, com suas colônias gregas, suas misturas de povos, suas fortalezas, nas quais os Generais, que o senhor deles tinha conquistado, então quanto seus próprios reinados foram administrar, de parceiros se tornaram adversários, ciumentos eram forçados à expansão dos territórios, assim suas tropas provocavam umas as outras, na Macedônia, na Trácia, Bitínia e Ponto, na Capadócia, Babilônia, Síria e Egito. Os países dos Sucessores [Diadochen, generais 'sucessores' de Alexandre Magno] situavam-se sobre a polida superfície da mesa, Coppi sentava-se inclinado diante do Helesponto, de onde Lisímaco, que fora antigo guarda-costas do Comandante-em-chefe [Heerführer], avançou para o sul, ao longo do litoral do Mar Egeu, e Filetero, um jovem capitão, proveniente de Tius, no Mar Negro, foi engajado como Governador [ou Procônsul, Statthalter] em Pérgamo. [...]



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LdeM

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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Vol. 1 - bl 3 (conclusao)


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Enquanto os pais de Heilmann nada se deixavam experimentar dos propósitos do filho e nós o visitávamos como se fôssemos camaradas do Esporte Clube Eichkamper, com a bola de futebol na bolsa de rede, havia na família de Coppi, como também junto a nossa [a do Narrador], simpatia a todos os debates sobre as dubiedades da vida política. Esta possibilidade, de também poder discutir as próprias obscuridades e falácias, era decisiva para o nosso avanço, e Heilmann fazia parte aqui da cozinha de Coppi tanto quanto da casa de seus pais no [distrito de] Westende. Como os conflitos de gerações eram para nós um sinal de dependências econômicas, numa sociedade, cujo declínio nós esperávamos, assim tínhamos de, com autoridade, abolir o departamento de educação depois dos privilégios de classe. O desinteresse pelas questões sociais, políticas, científicas e estéticas da época, débil inatividade, pauperização espiritual, opiniões inexpressivas eram mais frequentes de encontrar entre filisteus e também entre os membros da burguesia do que junto às massas, que eram excluídas dos institutos culturais e extenuadas através de trabalho árduo e monótono. Desde a precoce juventude eu estava habituado às declarações claras e evidentes sobre as estruturas de propriedade e os mecanismos da Economia, sobre a situação da pesquisa [técnica], sobre a produções artística, sobre as condições do país e outros países e continentes dos quais viemos a saber, que suas experiências lá tinham realizado, onde ocorria a confrontação de forças oponentes, que imediatas estavam incluídas nos focos de crise do processo social e os quais não conhecidos, e qual invenção e descoberta feitas em serviço da dominação e quais eram de uso coletivo, além de informação que se poderia conseguir sobre os beneficiados, suas faces e nomes, qual lucro eles tinham explorado dos trabalhadores. Seguiam-se aqui às coisas elementares, para a investigação de fraudes e crimes na empresa e no mercado imobiliário, na administração municipal e estadual [estatal], na diplomacia internacional e nas cidadelas dos monopólios e trustes, seguiam-se debates sobre imprensa, sobre exposições de Arte e livros recém-lançados, para as opiniões de política partidária e das constelações de poder em todo o mundo, e diante do delírio do poder mantínhamos a Crítica aos representantes nos ofícios e sindicatos, envolvidos nas conversas sobre reivindicações salariais, segurança do trabalho ou ações de greve, e o que sabíamos sobre as situações nos países atrasados do sul da Europa, nos ghettos dos Estados Unidos e nas colônias, nos quais os povos começavam a luta de libertação. Seguramente muitos não podiam se expressar, degradados através de doutrinação, anestesiados por derrotas, porém se começassem a falar, logo mostrariam exatamente os processos que estavam envolvidos, e onde eu chegava sempre a ouvir uma opinião oportuna, uma nova referência à compreensão de uma questão atual. Associações de trabalhadores, de pais, de vizinhos, às vezes também visitantes estrangeiros, metalúrgicos da Boêmia, camaradas italianos e espanhóis, com os quais a minha mãe, nascida em Estrasburgo [Strassburg], falava um francês com sotaque para facilitar a compreensão, quando nos sentávamos nas tardes de sábado e nos domingos, frequentemente na cozinha, que era a nossa sala-de-estar. Meu pai, desde jovem um social-democrata, seguramente o único prisioneiro político, que jamais esteve preso na detenção de Nagy Emöke de pátria húngara, devido à agitação contra a atividade de guerra do monarca imperial da Áustria, então ele próprio foi forçado ao serviço militar, e ficou gravemente ferido, na primavera de mil novecentos e dezesseis, e foi conduzido da fronteira da Galícia para a Alemanha e então teve alta do hospital, e foi morar em Bremen. Aqui eu nasci em oito de novembro de mil novecentos e dezessete. Meu pai tinha conseguido emprego no estaleiro do [rio] Weser e estava, devido a sua atividade na associação educativa dos trabalhadores, em cooperação com o jornal Política Trabalhista [Arbeitpolitik], que mantinha relações próximas com a Liga Espártaco [Spartakusbund]. Em novembro de dezoito, depois da proclamação da República Socialista, por Liebnecht, ele estava em Berlim, e em seguida novamente para a revolta revolucionária em Bremen, habilitou-se então nos anos 20 através de autodidatismo para o exame para Engenharia, não teve, contudo qualquer possibilidade de ascensão profissional, ao contrário era sobretudo trabalhador nas docas/estaleiros, em oficinas mecânicas, até ele, depois disso levar-nos para Berlim, devido ao avanço técnico, que ele conquistou em seu serviço, sendo nomeado para encarregado [Vormann]. Ele era, pois, do tempo da radicalização política dos social-democratas independentes, em março de mil novecentos e vinte e um tornou-se novamente filiado do Partido da maioria, porque oferecia-se a ele aqui, como ele pensava, melhores condições para as atividades dentro das organizações sindicais. Apesar de sua direção partidária manteve-se, durante as lutas em Berlim e Bremen, ao lado dos rivais, e ele também depois disso sempre entrou em conflito com a política deles, ele defendeu, porém, firmemente uma visão que o Partido através da massa de trabalhadores poderia levar à formação de uma Frente Única socialista. Era, apesar de sua luta por uma unidade de ação, havia nele algo de um anarquista, de um sindicalista, assim como ele sempre desconfiou de funcionários, oficiais, burocratas e diretores, assim foram para ele detestáveis os funcionários e pelegos [Bonzen] em seu Partido. O Partido, que fora para ele a associação dos trabalhadores, e ele não abandonou sua expectativa que estes do Partido mostrassem suas faces. Ao Partido Comunista ele não se filiou, pois ele não poderia criar um acordo para o Centralismo. Ele viu no poder-de-comando das instâncias diretivas e a obediência das subdivisões um princípio que não estava em acordo com seu conceito de Democracia. Também ele rejeitava a reivindicação à absoluta escolha-de-crença, porque esta, como ele dizia, tinha caráter religioso e a ele lembrava a decadência das autoridades. Enquanto ele atuou junto aos trabalhadores, apáticos, de se filiarem aos social-democratas e aos comunistas, e contra as advindas tendências anticomunistas no sindicato, ele emprestou sua voz ao Partido Social-Democrata, na verdade cada vez com um violento fracasso contra a última manobra deles de retrocesso e de compromisso, porém com a confiança de que os trabalhadores aqui, sem a supressão do Estado, muito mais usando-o, seria suficiente para o controle e gradual apropriação da produção. O conflito entre Reforma e Revolução era entre nós um constante tema, talvez foram as experiências dele durante as revoltas após a Guerra [Grande Guerra, ou Primeira Guerra Mundial], que a ele tinham convencido que não através de intervenções violentas, ao contrário, apenas através de lento fortalecimento e expansão do movimento dos trabalhadores, não através da luta armada, ao contrário, por meios parlamentaristas, a mudança social seria alcançada. Perguntado, se não demoraria muito tempo, se através do oportunismo, da tolerância dos poderes burgueses, com o adiamento de cada demanda, seria quebrada a vontade de lutar, ele respondia apenas que as forças de sustentação dos dois grandes partidos desde sempre estariam prontas para uma reunião, e que apenas a direção não tinha encontrado o caminho, e no próprio início dos anos trinta, que também o rápido crescimento da ameaça fascista, não poderia levar sua direção a um entendimento com os líderes do Partido Comunista, ele ainda sempre apoiou a vinda da razão proletária para um possível e calculado até mesmo brevemente antes de janeiro de trinta e três com poderosa contra-demonstração que desviaria na última hora o decair da classe operária. Ele prosseguia em semelhante ponderações, com o ombro esquerdo levantado, que era rígido desde o ferimento causado por um projétil alojado na carne, durante o combate na ponte do Kaiser [Kaiserbrücke] em Bremen, o que a ele dava uma postura de cético. Ele era amigo de Merker, que pertencia ao Comitê Central do Partido Comunista, e que há um tempo, quando os socialdemocratas eram, nos slogans comunistas, rotulados de 'social-fascistas', nos encontros de sindicatos filiados para uma atuação em conjunto e, como grupos socialdemocratas constituídos para continuar o trabalho ilegal no país, à estes seu apoio ofereceu. Merker, Dittbender, Münzenberg, Ackermann, Wehner foram apenas alguns dos numerosos comunistas, com os quais ele atuou na atividade profissional e no seu trabalho conjunto com o Auxílio Vermelho berlinense, onde ajudou aos camaradas estrangeiros, e tornou-se conhecido, tanto que o encorajaram seus esforços rumo a uma superação das rivalidades político-partidárias. Depois da queda em-separado dos partidos dos trabalhadores, depois da atemorizada submissão da grande maioria, ficaram nomes dispersos a resguardar, com os quais nós ainda por um longo tempo, em nossa separação, unimos em tradição, porém já fragilizada, e quando ninguém mais com segurança poderia ser personificado. Pessoas tais como os meus pais, os pais de Coppi, foram outrora por toda parte encontradas na população trabalhadora, elas foram, na atitude delas depois, internacionalistas, elas permaneceram, se socialdemocratas ou comunistas, além de feudos partidários participavam, enquanto por cima das cabeças delas foi conduzida a decisiva política, sem muito de se convencer, num coletivo ideológico em vez de separadas, a seguirem uma convicção. Um longo ano, ainda, igual a muitos outros, a esperar a reação, depois do mortificante teste, num tempo de espera, de hibernação, anos, décadas, se prolongam, daí meu pai se dirigir para a Tchecoslováquia, onde foi novamente buscar trabalho. A migração mostrou-se pesada para ele e minha mãe, e apesar de na cidade de Warnsdorf, no norte da Boêmia, ter sido empregado numa fábrica têxtil, por ajuda do Partido e do Sindicato, segundo falavam as cartas que eu recebia de meus pais, sobre os esforços de adaptação e, em alusões ocultas, de uma insegurança, que também lá constante se alastra. Num momento, em que a cidadania tchecoeslovaca ainda uma certa proteção oferecia, os meus pais conseguiram escapar à perseguição política, e também eu poderia, com meu passaporte tcheco, e assim por longo tempo eu poderia comprovar um emprego e um endereço permanente, e dedicar-me novamente à minha educação. Mais difícil era para a família Coppi resistir à pressão, pois o pai foi, por ora, demitido da companhia de armamentos das oficinas mecânicas Berlin, onde ele havia sido envernizador, já que ele tinha se recusado a ingressar nas organizações nacional-socialistas, e conseguiu então, pois ele devia fazer concessões, um trabalho subordinado, cujo salário, junto com o vil rendimento do trabalho-por-hora da mãe, dificilmente era suficiente para a sobrevivência. Apenas o pedaço de terra, que Coppi possuía na horta urbana associada Orla-da- Floresta [Kleingartenverein Waldessaum] em Tegel, poderia com batatas, nabos e feijões cultivados, ajudar no tempo de necessidade. A opressiva incerteza impedia-nos, entretanto, tampouco como antes, a buscar incentivos culturais. De fato, não tínhamos fartura de literatura nas estantes, fazíamos empréstimos de livro a cada semana na biblioteca pública, pela época da visita de Hodann, eu tinha também vez ou outra a ele pedido os livros que ao nosso apartamento trazia, e de bom grado emprestava, porém os volumes que a nós pertenciam, com cuidado eram selecionados, ele eram parte existencial de nossas vidas, adquiridos por papai ou mamãe. Devido a numerosas mudanças transportados, vários ainda provenientes de Bremen, assim fizeram, junto a louça e roupa de cama e malas de roupas, nossos únicos bens seguros, então nos móveis nós víamos bens casuais, baratos e já usados, carregados em carrinho-de-mão para a nova moradia, depois rapidamente vendidos antes da mudança para uma outra cidade. Possuíamos uma antologia de poemas de Maiákovski, algumas obras de Mehring, Kautsky, Luxemburg, Zetkin, Lafargue, alguns romances de Gorki, Arnold Zweig e Heinrich Mann, de Rolland, Barbusse, Bredel e Döblin. Em lugar de ornamentos de crochê, ou vasos de porcelana, meus pais tinham sempre estes pequenos blocos/volumes de camada espessa, apertados com conhecimento, propostas, instruções em adquirido papel impresso, e também quando o dinheiro era escasso, podia acontecer de meu pai ou minha mãe chegasse em casa com um novo livro de Toller ou Tucholsky, de Kisch, Ehrenburg ou Nexö, e nos sentávamos, à tarde, sob a lâmpada da cozinha, líamos alternados e então discutíamos, entre nós, o conteúdo. Qual o significado destes livros e com que efeito nos uniram, mostrou-se naquela época, quando um ou outro era detido pela polícia a confiscar os livros que tínhamos conosco, e os nomes dos autores eram usados como uma prova contra nós, e quando o livro era de Lênin então equivalia a uma alta traição. Sempre era mais reduzida, por isso, a quantidade de livros, que junto a nós conservávamos, sob a pilha de lenha junto ao fogão da cozinha de Coppi já sem espaço, com uma introdução de O Capital [Das Kapital, obra teórica de K. Marx], alguns recortes de jornal com discursos de Dimitroff e Stalin, os útimos números da Bandeira Vermelha [Roten Fahne], ocultos dentro do Observador Popular [Völkischer Beobachter], e os puídos, passados de mão em mão, camuflados como cadernos-brochura, providos com uma capa marrom com o título Wallensteins Lager [drama de F Schiller] a tratar sobre o processo do incêndio do Reichstag. Pouco ainda se falava da frieza e da pobreza das casas dos trabalhadores nessa época de vazio intelectual, sendo conhecidas as atividades políticas, das quais antes ninguém fizera segredo quando de sua filiação ao Partido [comunista], sendo que as listas de afiliados estavam nas mãos da polícia estatal [Gestapo, Geheime Staatspolizei, Polícia Secreta Estatal], vivíamos a ruptura, sendo vigiados por representantes, vigias de quarteirão [Blockwaltern], líderes de região, SA [tropas de assalto] e SS [tropas de proteção], e afiliados, amigos próximos estavam nas prisões, em campos de trabalho forçado [Straflager] ou no exílio, e os que voltavam viam-se apenas com os mais indispensáveis. Mas ainda mantinham limpos e ordenados, nunca exatamente em salas-de-visitas, pois muitos moravam juntos apertados, abandonados à decadência, quando a escassez pressionava a emudecida e dificultosa revolta contra o ataque de desmoralização e estupidificação.




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LdeM

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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Volume I - bloco 3 (1/3)




[pausa]

As fileiras de carretas de madeira empurrada uma na outra no pátio, deixando para trás as tábuas rangentes da escada, abrimos a porta com vidros, onde arranhões se ressaltavam na gordurosa, parda-escurecida pintura, a caixa de correios feita de arqueada lata escura, de branco arrebentado esmalte do oval brasão-do-nome, do cartão manchado firmemente pregado, impresso com o adornado texto do leitor-assinante do Observador Popular [Völkischer Beobachter, jornal do NSDAP, o partido nazista] e entramos na cozinha. Na luz esfumaçada, que caía através das janelas, pode-se reconhecer o fogão e a pia, e à mesa, sob o verde amparo-de-porcelana da lâmpada do teto, altiva na cadeira com encosto vertical, a mãe de Coppi. Ela tinha retornado de seu trabalho de meia-jornada nas oficinas da Telefunken lá na marginal Hallensche [Hallesches Ufer], agora descalçado os sapatos e meias, e depois mergulhado os pés numa bacia com água quente. De início, apenas turvo a perceber, com flutuantes contornos de uma janela dividida em seis retângulos, a mostrar-se os detalhes do formato, quando nós nos sentamos à mesa brilhante-polida. Da base do cabelo grisalho, atado atrás num nó, corria delgadas dobras em forma de leque sobre a testa até a raiz do nariz, entre densas sobrancelhas. O nariz era arqueado, profundas marcas se mostram das narinas aos cantos da boca até o queixo, os lábios eram estreitos, umedecidos com a ponta da língua, com o dorso da mão ela esfrega as fechadas pálpebras com pigmentos amarelados. Seu delgado pescoço crescia rígido entre os ombros inclinados, ela trajava um vestido azul-claro, com estrias longitudinais em azul-escuro e um colar com um broche, cujas pérolas-de-vidro se refletiam no espelho da janela na parede oposta. Também nas pupilas de seus olhos, que já se abriram, brilhou o formato da janela. As metades da janela estavam firmemente engatadas, que a fechadura com a chave ainda girada, a toalha de mesa se destacava em argolas. Da parede jorrava um débil verde no cômodo, além do espelho não havia mais que um calendário e um relógio, numa redonda moldura branca. Uma porta levava a um quarto, no qual encontrava-se a cama dos pais de Coppi, enquanto Coppi dormia no sofá da cozinha, entre o baú e a baixa estante de livros, de todo semelhante as instalações em nosso apartamento na rua Pflugstraße, quando eu lá morava com meus pais. A dimensão da cozinha, que lentamente se ensombreia, enquanto o filamento da lâmpada ficava mais nítido, formava uma conformidade que a nós, à mesa sentados, desejava impor um sentimento de uma dominante derrota. Além deste cubículo, detrás de muros esmigalhados, das grades das escadas, do poço do pátio, só havia hostilidade, aqui e ali a prevalecer semelhantes pequenos espaços gradeados, que sempre ficam mais raros, sempre mais difícil de achar ou logo não mais seriam encontrados. Cada palavra devia expressar a impotência, no acerto de cada tom, ao dizer aquelas palavras mais raras para nós, nos últimos quatros anos, Perseverança, Confiança e Vitalidade. A sofrida catástrofe para superar era esta a condição para tudo o que se realizava, seja sozinho ou junto daqueles de mesma disposição. Geralmente fazia-se tal consolidação de forma imperceptível, rotineira até aqui, bastavam apenas alguns poucos momentos de silêncio. Mesmo em nosso diálogo então cotidiano, quando reunidos, sempre era sobrecarregado pela proximidade de um perigo fatal. Todos, o que do último ano tínhamos adquirido uma noção, permanecia o respeito por esta relação entre necessário isolamento e máxima investigação atenta num terreno adversário, cujas fronteiras se expandem continuamente. Que cansaço, exaustão às vezes fora do controle experimentamos, que não queríamos aceitar, e explicávamos a fraqueza física e do ânimo em relação à fisiologia. Indo longe, seguíamos além, esperávamos, até ter acabado, ao pensarmos nas prisões, nos brejos, junto aos campos-de-tortura cercados por arame-farpado, e encontravamo-nos depois de um instante novamente em nosso contexto, no qual apesar de aparente desesperança, cedia determinado ponto-de-apoio e uma direção. Depois da falha da coalisão [de Comunistas e Social-Democratas], depois da supressão das nossas organizações, nós tínhamos, no cômodo verde a escurecer, uma série de coletivas sessões, que eram inalteráveis e nas quais foram transmitidas para nós instruções e notícias vindas de fora. Era a densidade dentro da cozinha, cuja janela Coppi então cobria com um papel escurecido, também bem hermético, assim concedia logo perspectivas, às quais para nós ligadas às ações, que levava a determinados lugares geográficos em bruscas discussões e discordâncias. Primeiro, fugíamos da vigilância a seguir-nos passo a passo, para poder debater as diretivas, que nos davam segurança e possibilitava trabalho contínuo. Funcionários diretores dos partidos políticos proibidos, que haviam conseguido escapar da prisão e da morte, tinham sido levados para fora dos limites de suas bases, às vezes eles voltavam ao país, e em pequenos grupos conspiratórios em movimento, camuflados em associações de jogadores de boliche, cantores, esportistas, jardineiros, seguíamos em geral apenas em dupla, ou em trio, ou grupo de quatro, originados como medidas de resistência nos amplos arredores. Eram frequentes as trocas dos nomes dos lugares, onde aconteciam os encontros. Assim foram os debates em Moscou, no outono de mil novecentos e trinta e cinco, sobre a estrutura das atividades ilegais e sobre a necessidade de se conseguir uma unidade dos partidos de trabalhadores, que perdera-se em Bruxelas, cidade onde se realizara, no início do século, o Congresso dos social-democratas russos, no originalmente denominado Dia da Unificação do Partido, que, no entanto, levou à divisão em Bolcheviques ['maioria'] e Mencheviques ['minoria']. Na alusão à este ponto de partida histórico ficou a Ironia dialética, então desde julho de mil novecentos e três não permaneceu apenas a fratura interna do Partido russo, mas também teve consequências nas oposições nas opiniões dos social-democratas alemães e russos, finalmente a provocar a divisão nas Segunda e Terceira Internacionais. A menção à Bruxelas lembrou-nos cada armazém de grão, no calor abafado, afligidos por pulgas e ratos, sobre tábuas ajuntados, a rastejarem, os emigrados revolucionários russos, sob a liderança de Lênin, a fundamentar as estratégias deles. Relembradas foram a tenacidade e a determinação e também a irreconciliação, com que as opiniões foram conduzidas, porém marcada a escolha dos nomes dos lugares ao mesmo tempo em que faziam esforço para reencontrar um perdido ponto-de-vista em comum. As decorridas três décadas foram um tempo reduzido, dessa divisão do Proletariado, mas nos grandes Partidos o resultado de tal desunião reforçou a ampla fragmentação a favorecer um desastre, sempre à espreita, pronto a se aproveitar para atacar a cada sinal de fraqueza e para suprimir em toda a extensão todas as tentativas para uma renovação. Pois até o limite seguiu a inimizade fatal em luta entre os partidos dos trabalhadores, com a destruição da solidariedade, o efeito do Fraktionalismus [facções dentro da Esquerda, falta de Unidade do Partido], ao que todos estariam comovidos pela lembrança de Bruxelas, tanto maior parecia a nós a coragem na presente incompatibilidade das linhas políticas, a iniciar a fonte de controvérsias e com isso levar a um maior grau de dificuldade das nossas atuações. As discussões sobre a unidade de ação entre Comunistas e Social-Democratas se situavam quanto às decisões básicas para uma orientação da política para a construção de Frentes Populares, que algumas semanas antes, foi acertada para o Sétimo Congresso Mundial do Komintern [Internacional Comunista]. Na falta de informações sobre os detalhes das polêmicas tínhamos examinado as gravuras dos prédios da Internacional Comunista, para ter ao menos aquele lugar diante dos olhos, onde de tais debates dependiam os nossos destinos. Naquele tempo mantinha a casa simétrica, cheia de janelas, bem próxima ao portão Trojckije até o Cremlin, um brilho rosado sob as pequenas nuvens desfeitas no céu crepuscular, e pensávamos também nas cúpulas douradas, subindo dos muros vermelhos, com pontas abertas em forma de flor-de-lis, e do outro lado, diante da enorme praça aberta, o compacto cubo, a negra Kaaba [referência ao santuário islâmico ], contendo o caixão envidraçado, elevado [o corpo de Lênin]. Tentamos adequar ao modelo os nossos pequenos distritos e conduzir nossa prática isolada em concordância com as diretivas, com seus lemas, cujos múltiplos temas dos delegados eram coletados, comparados, revisados, refinados e fortalecidos em debate. Desde a nossa infância os incessantes esforços para a construção de uma Frente de Unidade, porém estávamos meia década vivendo dentro do poder fascista, e os esforços emperrados, obstruídos, rumo a uma solução, a insistir na superação dos mesmos erros. As notícias escassas, que a nós, os de dezoito anos, chegavam, na clandestinidade, eram conhecidas nas conversas, sempre de novo resolvidas, testadas, conferidas e, na sequência, examinadas. Isto era para nós uma condição básica, que os eventos em grande escala nunca viesse a ser para alguém algo incompreensível, inacessível, que deixaríamos examinar nosso isolamento com desamparo. Estávamos certos do fato de que lá fora algo existe e se fortalecia e para a reação estaria preparada. E conforme mais difícil se tornasse, no interior dos restantes grupos ilegais, incorporavam contato uns com os outros, a prestarem ajuda mútua e a informar uns aos outros sobre os planos, tão considerável era cada mínimo detalhe, a permitir tirar conclusões sobre a situação, ao decorrer das ações fora do nosso distrito. Mas desde um ano tínhamos então também, previsto um maior controle, que autorizava mais raramente movimentos em maior extensão nas vizinhanças, tais mudanças articuladas dentro do Partido soviético, que nos infligiram cuidados adicionais, e que, deixavam ocultos seus motivos profundos, a exigir de nós uma aguçada atenção contra todos aqueles nos quais tínhamos confiado. Eu mesmo que, logo depois do domínio fascista, tinha começado a trabalhar, foram anuladas as condições que permitiram a atividade política de nossos pais. Para eles além dos empregos haviam interesses coletivos de engajamento cotidiano, que se prolongava na pluralidade das afiliações do Partido e sobre o conflito ideológico. Somente o preconceito do antagonismo entre as gerações ficou compensado, mais forte ainda que antes havia a única linha-de-separação, que havia definido a luta-de-classes, e esta decorrida através de toda a população mais velha. Foi apenas por isso que então se perguntava de que lado do front [frente de combate] se estava, quando se mantinha em silencioso consentimento nas ações coletivas. Nosso desenvolvimento pessoal ocorria em forçada restrição, um movimento de liberdade cultural era impensável, era o que aprendíamos, a poder ser conquistado apenas em caminhos ocultos. Mil novecentos e trinta e sete, em sinais paradoxais de luta de um amplo e uniforme front e da desconfiança interna, da desagregação na própria fileira, assim coagidos, à cada impulso que recebíamos, depois de avaliação própria, com frequência ao modo visionário de interpretar e logo conceder uma forma idealista. O que tínhamos ouvido sobre a Espanha, sobre o movimento revolucionário na China, sobre os distúrbios e revoltas no sudeste asiático, na África, na América Latina, ou sobre as greves em massa, as coligações dos sindicatos e partidos trabalhistas na França, deixava-nos a conjecturar que o pensamento rumo a vitória sobre as forças reacionárias do mundo não era tão equivocada como se queria retratar nas frases gritadas, os slogans da Gleichschaltung [a conformidade forçada sob o regime nazista] em nosso país. Porém se tentávamos, nas operações e organizações, descobrir sinais de mudanças, de insubordinação, de sabotagem, apenas encontrávamos resignada adaptação, vigilância muda, e nossas Utopias não poderiam enganar-nos tanto, que muitos dos quais, que deixamos no frio ainda em janeiro de mil novecentos e trinta e três, pobremente trajados, que indo para a casa de Liebknecht [líder comunista] viram já a marchar com as bandeiras, nas quais o vermelho das cruzadas ferramentas de trabalho foram substituídas pelo anguloso símbolo da destruição [a foice e o martelo substituídos pela suástica].
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trad. LdeM

domingo, 27 de junho de 2010

Vol. I / conclusão do bloco 2


.........Talvez fosse o movimento do trânsito ao redor que fizesse a fala de Heilmann ficar confusa, porém ele mantinha-se firme adiante, que justamente isso que Coppi tinha definido enquanto ilusão, enquanto produto de crescente-selvagem fantasia, para ele mantinha-se chão firme, então o pragmático, que estava ligado à regulações, seja para nós que já conhecemos o bastante, nós saberíamos que a obediência, a confiança enfraquecem sob uma condução superior sobre a nossa própria opinião, nossa faculdade de discernimento escapa à força, a promover inferioridade e impotência. Para nós é válido, ele disse, derrotar os padrões desde antes recebidos. Porém as palavras dele, que no ruído se perdiam, chocavam-se contra faces desconhecidas, se ajustavam a algum tempo novamente aos passos, que Hércules tinha seguido, desde o privilégio de alianças com o Olimpo até ficar ao lado dos terrestres, e aos poucos então nós poderíamos acompanhar as considerações, qual tipo de mudança Hércules realizou, quais erros ele enfrentou e, talvez, quais descobertas ele conquistou em suas viagens. A direção, que ele assim seguiu, estava desde o início predestinada, então contra as intrigas dos poderes ele se revoltou logo desde criança. Hera, a irmã e esposa de Zeus, por ciúmes, tinha apertado o ventre de Alcmena, deitada em contrações, engravidada pelo deus-pai, pois assim atrasaria o nascimento de Hércules. Aqui demonstra-se, disse Heilmann, a ruptura tornou-se a mais irreconciliável controvérsia, desde o ventre foi modelada a revolta contra a existência, e foi testada com intrigas e astúcias, ao receber o tradicional. Por aqueles dias, Zeus havia anunciado festivo aos Grandes [Deuses] reunidos a vinda de um novo soberano para o mundo, um que ele havia deveras prometido. O que ele queria dizer com isso era, como de hábito, aos Mortais insondável, à rainha do Céu porém pressentida catástrofe, então as conspirações da esposa dele foram suficientemente conhecidas por ele, e aqui se mostravam claramente em parte, de súbita inspiração, a formar-se a partir do desejo divinal, o que poderia abalar totalmente as veneráveis fundações. A partir de elevadas esferas estava deslocado o evento acima do plano terrestre. Mais auspicioso deveria nascer Anfitrião [Anfitrion, seria esposo de Alcmena], nobre de Tebas, descendente de Perseu. Hera, com passos aéreos, apressou-se aos aposentos de um outro eminente, também parente de Perseu, Estênelo, cuja esposa estava grávida, no sétimo mês, e com bebida ardente provocou este nascer prematuro, assim que, em lugar de Hércules, na hora assinalada, foi Euristeu empurrado para a vida. Superado, ao chegar atrasado, ele, a quem Zeus tinha escolhido para grandes ações, junto ao preferido de Hera, e Hércules era bem-formado, agarrou e golpeou o outro nos olhos, enquanto este ficava inerte e resignado, a ficar descorado. Nós devemos ver, disse Heilmann, o que surge a partir dessa rivalidade, no decorrer da qual o deformado chegou ao poder e o bem-formado e forte deveria suportar todas pragas e fardos. Invejosa, Hera perseguiu o crescimento do saudável, ao qual o berço comum logo não era mais suficiente, e ela seguiu até ele, em sandálias de ouro, que não marcavam o chão, banhada em ambrosia, com pesados pingentes nas orelhas e nos braços formosos duas serpentes, que a vida do rival deviam extinguir. A criança estendeu a ela, que se inclinara entre os véus contra mosquitos, as mãos como a uma carícia de afeto, ao contrário, vomitou-lhe na face e estrangulou as víboras. Enquanto Euristeu ainda débil gritava em sua almofada e a ama alimentava-o com cuidado, já Hércules cuidava do rebanho de ovelhas da fazenda de seus pais e alcançou junto ao povo da região uma primeira notoriedade, lá ele não apenas rasgou a garganta dos lobos invasores, mas também ao leão considerado invencível, que há muito tempo atacava nas vizinhanças do rebanho. Euristeu, seu primo, recitava, com voz lastimosa, poemas, e tocava desafinado a lira, no entanto, Hércules puxou de Linos, o professor que queria persuadir o aluno que a única liberdade a ser concedida seria a liberdade da Arte, o chapéu firme sobre os olhos, a quebrar-lhe o osso do nariz, e quando o mestre afirmou além disso, que a Arte seria para todos os tempos a apreciar independente das próprias confusões, ele colocou o mestre de cabeça-para-baixo dentro de uma fossa de estrume e afogou-o, para provar que a bela espiritualidade desarmada ao mais simples poder não pode resistir. As filhas [as Musas] de Mnemosine [Deusa da Memória], elas também do mesmo parentesco [filhas de Zeus], ele tinha logo outrora surrado, quando estas desejavam atrever-se. Sozinho, decidido em todas as questões da Dança, da Música, do Canto e da Poesia, ele aprendeu as canções, aquelas cantadas nas ruas, e as estridentes flautas de caniço, as ressoantes gaitas de foles, o retumbar dos tambores nas tabernas. Junto em andanças nos subúrbios detestados pelas Musas ele aprendeu a reconhecer a miséria, que havia nos barracos e porões de casas, e ele estava sempre meio aos servos e criadas, o humilde servidor, os diaristas, os mascates, que esfomeados e sugados foram por impostos tributos, enquanto acima na fartura da cidade havia carne, verduras e frutas, como também tonéis de vinho, e as arcas-do-tesouro, que estavam sempre cheias. Ele não queria acreditar que o terror, quando de seu exílio da sua cidade natal, Tebas, e que seria culpa do místico príncipe Ergino [rei de Orcômeno, que cobrava tributos dos tebanos], que ninguém tinha ainda visto, então por que arrotava e vomitava Creonte, o rei [de Tebas], com toda a sua corte, de tanta fartura, por que vestem as damas da nobreza a cada dia uma nova roupa, se havia sobre eles uma tirania, a exigir constantes tributos. A demonstrar que os de sangue nobre estavam isolados e sozinhos, que com falsa ilusão mantinha abaixo a massa ignorante de trabalhadores, enquanto a nobreza subornava e comprava os representantes e mestres, coagidos para a patifaria por ameaça de inauditos castigos, Hércules então se dirigiu à ilha do corte do mármore e buscou de lá uma comitiva de impor respeito. Aos escravos, os que tossiam lá sentados nas gamelas, os pulmões cheios de pó de pedra, não precisou ele muito esclarecer. Com estilhas de mármore na barba, com sílex entre os dentes, armados com suas serras e alavancas, eles o acompanharam, e aos vigilantes antes de plantão, arrebatados, ao assombro à respeito da questão, por que isto não havia acontecido antes. Com os libertados Hércules marchou em Tebas e espalhou a informação de que ele havia esquartejado Ergino e lançado aos corvos para ser devorado. Ainda antes que ele invadisse a fortaleza do rei [Creonte], na cidade ressoavam cantigas, cotidianas, rimadas com precisão, em melodias compostas, daquelas que ficam registradas nos ouvidos, de como fragmentou o inimigo mortal e espalhou seus membros em todas as direções cardeais e de como Tebas foi finalmente libertada. Aí nem Creonte, ainda com seus astutos filósofos e sacerdotes, o monstro que sobre eles tinha reinado, poderiam mostrar, antes ser celebrada a Hércules a alta posição, e Creonte deu a ele por casamento a filha Mégara, distribuiu para o povo comidas e bebidas, e durante três dias celebraram em festas e abriram os portões de alguns depósitos de trabalho. O rei e todos os dignitários vieram para ouvir Hércules, que ele seja o melhor, o mais forte, que realmente a ele o status seria garantido, que o débil e inferior Euristeu que a ele tinha roubado, e ao mesmo tempo, porém eles manobravam diante dele nascido no trono de Micenas, de onde ele enviou tropas pesadamente armadas sobre a terra, a massacrar os camponeses revoltados e a capturar os escravos fugitivos. Este foi a época da demência de Hércules, disse Heilmann, enquanto nos encontramos no pavilhão do mercado central, junto aos caminhões carregados até encima de caixas e engradados. Ele [Hércules] não notou, fascinado pelo charme de Mégara, que a guarda de segurança dele foi morta e enterrada, nenhum aviso de alerta atravessou os muros do castelo até ele, e quando ele pela primeira vez, na ocasião, em vestes de seda, atravessou os portões para a cidade, na qual, como ele julgava, a época da prosperidade havia chegado, ele encontrou apenas mendigos e crianças furiosas, e as pedras atiradas contra ele, e alguns artesãos ao passarem transmutaram-se, quando ele os chamou, dele se afastaram. Um único momento de desatenção pôde anular todo o alcançado, e então passaram-se meses, talvez até mesmo anos, os quais ele tinha gastado inativo, contudo, tinham sido usados pelo adversário, melhor armado, quando antes havia o Estado, e com isso, não deveriam se repetir os ataques-surpresa. Também os autores da Corte tinha já aprendido e, na dialética das ruas, criado uma poesia de escárnio, cujo tema era Hércules enganando os pobre, com grande discurso dele, a vã-glória dele, enquanto Euristeu, o Sábio, o Escolhido da Graça dos Altos Deuses, em muitos versos fizera votos de seu amor paternal ao povo. Às pessoas, das quais se diz o que elas sempre precisam, o que elas acreditam, o que elas podem venerar, estas foram para os espaços abertos onde se exibiam os desfiles, como se fosse uma festa para os olhos, com os carros de batalha, elmos com penachos, estandartes, e os discursos em alta voz a darem uma expressão de esperança, de que os conspiradores, que colocaram no caminho aquelas renovações, haviam sido removidos, e o Regente deseja que os cansados e famintos saibam que ele se preocupa com eles e deles se compadece, e com silente assombro os ouvintes descobririam que o que foi imposto sobre eles era uma situação de emergência. Como poderia Hércules ter lido com isso, nós nos perguntamos, junto ao canal, encostados ao fuliginoso parapeito-de-ferro, com arrebites salientes, branco-manchado de merda das aves, que antes estiveram lá, enquanto a ele o Iniciado a seguir adiante, tendo acreditado que uma ação isolada poderia ser suficiente como um exemplo, como uma revolução a ser alcançada. Ele uivou de ódio, disse Heilmann, ele ficou furioso em seus aposentos, menso por ter sido derrubado, pois ele sabia resistir, mas antes porque por causa dos inumeráveis outros, os que eram mais fracos do que ele, e sem influência, tinham sido deixados no sofrimento. Antes que ele insistisse na luta a empunhar as lanças, que a ele rodeavam, assassinou a esposa e também as crianças, que a mulher lhe dera, todos, a ele ligados, a eliminar todo parentesco, sem qualquer reconciliação, e nós até entendemos a fúria dele, quando desfilam marchando ruidosa uma tropa de sinistros coveiros, com caveira nos quepes [as tropas SS]. Porém, nós não entendemos porque ele, então, se enrolou num saco, coberto de cinzas, a seguir rumo a Micenas, para se submeter a Euristeu. Ele [Hércules] se humilhou, em desculpas, disse Heilmann, ele aceitou todo tipo de humilhação sobre si mesmo, pois era necessário que ele suportasse. Ao contrário de sofrer em câmaras de torturas, que já estavam prontas para ele, antes oferecera seus serviços aos monarcas e seguiu ao lado destes, que se vangloriavam de serem aliados, rumo a uma série de trabalhos cheios de perigo [os doze Trabalhos de Hércules]. Ao perceber suas falhas, nos mais variados lugares do país, ele voltava-se para um longo plano, com o qual esperava vencer este sistema do ressentimento, da dominação e do assassínio, mantido por Euristeu, com a ajuda de Hera. De início, não foi evidente o que os seus Trabalhos pretendiam, e é uma incerteza que se tem nas Sagas, sobre ele tão propagadas, preservadas até os dias atuais. Os eruditos deram, com reduzidos informes conhecidos, que Hércules, diante de Euristeu, colocara a sua vida em jogo ao redor do país, e depois em distantes regiões, a remover focos de revoltas e hostilidades. Os fabulistas nos mercados enfeitam com detalhes os Trabalhos do Enviado. Acima, a nordeste, em Nemeia, ele havia matado um leão, quando o agarrou por trás, a perfurar suas narinas com os dedos polegares e indicadores, enquanto o punho direito golpeava a boca aberta até o fundo da goela. Com a pele da besta, ele fez um manto, cujas pernas se cruzavam no peito, a bocarra aberta sobre a cabeça, e ele seguiu além , rumo ao sul, para o pântano de Lerna, onde habita a Hidra de nove cabeças. Assim soube-se que no réptil, ao ter a cabeça cortada, cresciam duas outras novamente, tal foram narradas no Basaren [local de Berlim, com basares e feira pública] logo dispersas sobre Hércules, das quais nos valemos, com sua grande foice escura, como se diz, e seguiu em frente, como se fosse apenas uma jibóia. Ele não seria Hércules, dizem, se ele findasse um plano sem vitória. Com um tronco em brasa ele queima, após cada golpe, no toco do pescoço da Hidra, e assim impede a regeneração. Os ouvintes meneiam a cabeça, incrédulos, e fazem estalos com a língua. Porém quando Hércules então dos montes Erímanto veio com um javali capturado, um imenso animal a espumar de fúria, levantado seguro pelas patas traseiras, a adentrar o palácio e a sala do trono, onde o rei enviado dos Deuses tremia de medo dentro de um vaso de argila, foi mesmo necessária uma boa gargalhada, e muito se começou a antecipar ao que Hércules pretendia. Desde então aumentou a fama dele novamente para aqueles que já o tinham dado por esquecido, e é dito que ele seguiu para o Lago de Estínfalo, para eliminar as aves monstruosas, que eram uma peste naquela região, lá aninhadas acima das plantações, assim nas narrativas das crianças, enquanto ele atirava no ar, com movimentos rápidos-fulminantes, as flechas agudas, logo triunfante sobre os montes de vítimas cheias de penas aniquiladas. Com efeito, muitos eram os estragos que as aves causavam, invadindo os rebanhos, mas tudo veio em vantagem dos senhores da Corte, que faziam tudo para rivalizar com Hércules, ao explorar as regiões além do arquipélago [de Micenas]. Logo irrompeu uma época de navegações marítimas, e descobertas revolucionárias. Enquanto dos Aristocratas seus pensadores a fazerem sempre grande esforço para descreverem as vantagens dos distantes Trabalhos de Hércules, do que falavam tanto quanto os que nada tinham, os sem-propriedades. Que novidade traziam sobre Hércules, perguntavam sempre, e assim orgulhosos dele, porque ele deixou de joelhos o touro que espirra fogo, amansou os cavalos comedores-de-carne-humana, derrubou o Gigante de três cabeças e ganhou a amizade de Atlas, e assim crescia a rixa com Euristeu, que , com os sussurros de Hera no ouvido, sempre tentava novamente perseguir o herói com os infortúnios, para fazê-lo fracassar. Foi na época, disseram os trabalhadores, que à noite no covil sentados juntos, que ele retorna, coisa que ninguém mais duvida, até Euristeu a deliberar junto aos seus latifundiários e generais, enquanto ele [Hércules] atuava junto às Amazonas, ou qual a razão dos pilares à beira do Oceano [os montes no Estreito de Gibraltar a ligar o Mar Mediterrâneo ao Oceano Atlântico], enquanto ele se demorava nos Jardins das Hespérides [à Oeste, rumo ao Poente]. Ele devia, foi o que respondeu, o mundo todo medir com os seus passos, determinar ao redor, onde havia supremacia hostil ou possibilidades para o livre desenvolvimento. No entanto, os trabalhadores se preparavam desde dias antes, quando ele novamente estivesse entre eles. Aos abusos dos mercenários eles mantiveram calma e sangue-frio. Eles juntaram piche em adegas comuns, para, no momento apropriado, poderem colocar fogo nos arsenais. Quando deviam construir novos muros ao redor da fortaleza do rei, eles cuidaram então em incluir passagens para uma marcha ligeira. Eles sabiam que Euristeu, insone, percorria seus luxuosos salões e lá fora dos muros ouvia o sussurrar da iminente chegada de Hércules. Agora era muito tarde para os superiores lamentarem a libertação de Hércules, enquanto ordenavam na base do chicote uma maior vigilância dos soldados, ou a distribuírem nas cidades as esmolas do Governo. O inquietar que se espalha não era de se negar por muito tempo, a segurança das elites privilegiadas foi minada, nenhuma prece ou concentrações de tropas podia mais coagir o povo à reverência. Ainda mais os torturadores se enfureceram, e as masmorras se encheram com estes, que arbitrariamente da inquietação eram suspeitos. Porém, onde os verdadeiros presos se sentaram, revelaram-se certa manhã, ao alvorecer, quando Hércules entrou em Tebas, em companhia de um cão gigantesco, junto do qual todos em gritaria, em suas casas grandes e sólidas rastejaram para debaixo das camas, enquanto que os que passam as noites nos casebres ou sob céu aberto, ficaram atentos e se dirigiram até Hércules, quando ele chegava ao som de alegre trombone. Desde antes, quando ao guarda infernal [o cão Cérbero] dera ordem para ser inofensivo, Hércules em ataque dentro da Estrutura-do-Mundo, até cantando, o puxara com facilidade para fora das profundezas terrestres, e o levou até a praça do mercado, onde os soldados tinham removido os balcões mais altos, e ele [Hércules] mostrou aos servos e as servas, aos trabalhadores-diaristas e artesãos, aos agricultores e pescadores que se ajuntavam, e a infantaria a descansar. Ali Cérbero, aos miseráveis vira-latas, que, em consideração a numerosa multidão, a cauda encolheu e começou a choramingar. Em uma gaiola, ele [Hércules] tinha trazido uma águia, também este uma proeminência no sistema de coerção e ameaça, ela que foi vista antes a atormentar os desafiadores, os audazes e os auto-conscientes, a devorar o fígado dos rebeldes, de novo e de novo, e estes todos já tinham fim, assim podiam ver os habitantes de Tebas. Eles viram, em quais ressecadas pernas sarnentas o domínio se mantinha por fraudes e mentiras, e quão lamentável a ave, que ainda há pouco imperava orgulhosa sobre Prometeu, agora em suas penas suspensas, o quão embotadas eram as membranas a recobrirem os perigosos olhos relampejantes. Ao fim, também nos sofrimentos para o forjamento do Novo, amplo ali em Tebas, em Micenas, para a Era de Justiça. Porém, os habitantes sucederam-se, isso queremos saber, a propagar tal convencimento, que os dominadores nos palácios, as residências dos patrícios, vieram de joelhos arrastados e a pedirem indulgência, sempre de novo, enquanto [os revolucionários] se mantinham em dúvidas e hesitações, não necessariamente uma traição, mas uma conservada tolerância, que dava oportunidade para uma defesa, e até uma contra-ofensiva [das Elites]. Então não houve paz, disso já tínhamos ouvido, pois começaram guerras piores que antes. Hércules, porém, já não cogitava de ficar do lado dos Escravizados, disse Heilmann, junto ao guinchar das rodas de um bonde [elétrico, trólebus] lotado, vindo da Alexanderplatz [grande praça aberta em Berlim], virou para a rua Rosenhaler, ele tinha elucidado que todos os adágios mágicos que encontrou, e dominado incríveis animais, e a quem qualquer mortal gostaria de ser igual. O tempo dele de aprendizado tinham passado, então tudo o que ele fez, seria marcado por imensas mudanças, e ainda conservava aliados, entre eles estava aquele que suportava a abóbada do Céu [o gigante Atlas]. Porém, disse Heilmann depois de um momento, quando passamos pelos fechados portais suportados pelo encurvado Titã, porém ele [Hércules] sofreria sob medonho tormento, nunca antes sofrido por ninguém, quando tentava arrancar a camisa com o envenenado sangue de Nessos [o Centauro] a queimar sua pele, e não conseguindo, na loucura da dor foi jogar-se numa sempre abrasante pira no alto do monte Oite.
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mais sobre os Trabalhos de Hércules
http://www.mundodosfilosofos.com.br/hercules.htm
sobre o desafio de Prometeu aos Deus
http://www.mundodosfilosofos.com.br/prometeu.htm
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LdeM



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