domingo, 27 de junho de 2010

Vol. I / conclusão do bloco 2


.........Talvez fosse o movimento do trânsito ao redor que fizesse a fala de Heilmann ficar confusa, porém ele mantinha-se firme adiante, que justamente isso que Coppi tinha definido enquanto ilusão, enquanto produto de crescente-selvagem fantasia, para ele mantinha-se chão firme, então o pragmático, que estava ligado à regulações, seja para nós que já conhecemos o bastante, nós saberíamos que a obediência, a confiança enfraquecem sob uma condução superior sobre a nossa própria opinião, nossa faculdade de discernimento escapa à força, a promover inferioridade e impotência. Para nós é válido, ele disse, derrotar os padrões desde antes recebidos. Porém as palavras dele, que no ruído se perdiam, chocavam-se contra faces desconhecidas, se ajustavam a algum tempo novamente aos passos, que Hércules tinha seguido, desde o privilégio de alianças com o Olimpo até ficar ao lado dos terrestres, e aos poucos então nós poderíamos acompanhar as considerações, qual tipo de mudança Hércules realizou, quais erros ele enfrentou e, talvez, quais descobertas ele conquistou em suas viagens. A direção, que ele assim seguiu, estava desde o início predestinada, então contra as intrigas dos poderes ele se revoltou logo desde criança. Hera, a irmã e esposa de Zeus, por ciúmes, tinha apertado o ventre de Alcmena, deitada em contrações, engravidada pelo deus-pai, pois assim atrasaria o nascimento de Hércules. Aqui demonstra-se, disse Heilmann, a ruptura tornou-se a mais irreconciliável controvérsia, desde o ventre foi modelada a revolta contra a existência, e foi testada com intrigas e astúcias, ao receber o tradicional. Por aqueles dias, Zeus havia anunciado festivo aos Grandes [Deuses] reunidos a vinda de um novo soberano para o mundo, um que ele havia deveras prometido. O que ele queria dizer com isso era, como de hábito, aos Mortais insondável, à rainha do Céu porém pressentida catástrofe, então as conspirações da esposa dele foram suficientemente conhecidas por ele, e aqui se mostravam claramente em parte, de súbita inspiração, a formar-se a partir do desejo divinal, o que poderia abalar totalmente as veneráveis fundações. A partir de elevadas esferas estava deslocado o evento acima do plano terrestre. Mais auspicioso deveria nascer Anfitrião [Anfitrion, seria esposo de Alcmena], nobre de Tebas, descendente de Perseu. Hera, com passos aéreos, apressou-se aos aposentos de um outro eminente, também parente de Perseu, Estênelo, cuja esposa estava grávida, no sétimo mês, e com bebida ardente provocou este nascer prematuro, assim que, em lugar de Hércules, na hora assinalada, foi Euristeu empurrado para a vida. Superado, ao chegar atrasado, ele, a quem Zeus tinha escolhido para grandes ações, junto ao preferido de Hera, e Hércules era bem-formado, agarrou e golpeou o outro nos olhos, enquanto este ficava inerte e resignado, a ficar descorado. Nós devemos ver, disse Heilmann, o que surge a partir dessa rivalidade, no decorrer da qual o deformado chegou ao poder e o bem-formado e forte deveria suportar todas pragas e fardos. Invejosa, Hera perseguiu o crescimento do saudável, ao qual o berço comum logo não era mais suficiente, e ela seguiu até ele, em sandálias de ouro, que não marcavam o chão, banhada em ambrosia, com pesados pingentes nas orelhas e nos braços formosos duas serpentes, que a vida do rival deviam extinguir. A criança estendeu a ela, que se inclinara entre os véus contra mosquitos, as mãos como a uma carícia de afeto, ao contrário, vomitou-lhe na face e estrangulou as víboras. Enquanto Euristeu ainda débil gritava em sua almofada e a ama alimentava-o com cuidado, já Hércules cuidava do rebanho de ovelhas da fazenda de seus pais e alcançou junto ao povo da região uma primeira notoriedade, lá ele não apenas rasgou a garganta dos lobos invasores, mas também ao leão considerado invencível, que há muito tempo atacava nas vizinhanças do rebanho. Euristeu, seu primo, recitava, com voz lastimosa, poemas, e tocava desafinado a lira, no entanto, Hércules puxou de Linos, o professor que queria persuadir o aluno que a única liberdade a ser concedida seria a liberdade da Arte, o chapéu firme sobre os olhos, a quebrar-lhe o osso do nariz, e quando o mestre afirmou além disso, que a Arte seria para todos os tempos a apreciar independente das próprias confusões, ele colocou o mestre de cabeça-para-baixo dentro de uma fossa de estrume e afogou-o, para provar que a bela espiritualidade desarmada ao mais simples poder não pode resistir. As filhas [as Musas] de Mnemosine [Deusa da Memória], elas também do mesmo parentesco [filhas de Zeus], ele tinha logo outrora surrado, quando estas desejavam atrever-se. Sozinho, decidido em todas as questões da Dança, da Música, do Canto e da Poesia, ele aprendeu as canções, aquelas cantadas nas ruas, e as estridentes flautas de caniço, as ressoantes gaitas de foles, o retumbar dos tambores nas tabernas. Junto em andanças nos subúrbios detestados pelas Musas ele aprendeu a reconhecer a miséria, que havia nos barracos e porões de casas, e ele estava sempre meio aos servos e criadas, o humilde servidor, os diaristas, os mascates, que esfomeados e sugados foram por impostos tributos, enquanto acima na fartura da cidade havia carne, verduras e frutas, como também tonéis de vinho, e as arcas-do-tesouro, que estavam sempre cheias. Ele não queria acreditar que o terror, quando de seu exílio da sua cidade natal, Tebas, e que seria culpa do místico príncipe Ergino [rei de Orcômeno, que cobrava tributos dos tebanos], que ninguém tinha ainda visto, então por que arrotava e vomitava Creonte, o rei [de Tebas], com toda a sua corte, de tanta fartura, por que vestem as damas da nobreza a cada dia uma nova roupa, se havia sobre eles uma tirania, a exigir constantes tributos. A demonstrar que os de sangue nobre estavam isolados e sozinhos, que com falsa ilusão mantinha abaixo a massa ignorante de trabalhadores, enquanto a nobreza subornava e comprava os representantes e mestres, coagidos para a patifaria por ameaça de inauditos castigos, Hércules então se dirigiu à ilha do corte do mármore e buscou de lá uma comitiva de impor respeito. Aos escravos, os que tossiam lá sentados nas gamelas, os pulmões cheios de pó de pedra, não precisou ele muito esclarecer. Com estilhas de mármore na barba, com sílex entre os dentes, armados com suas serras e alavancas, eles o acompanharam, e aos vigilantes antes de plantão, arrebatados, ao assombro à respeito da questão, por que isto não havia acontecido antes. Com os libertados Hércules marchou em Tebas e espalhou a informação de que ele havia esquartejado Ergino e lançado aos corvos para ser devorado. Ainda antes que ele invadisse a fortaleza do rei [Creonte], na cidade ressoavam cantigas, cotidianas, rimadas com precisão, em melodias compostas, daquelas que ficam registradas nos ouvidos, de como fragmentou o inimigo mortal e espalhou seus membros em todas as direções cardeais e de como Tebas foi finalmente libertada. Aí nem Creonte, ainda com seus astutos filósofos e sacerdotes, o monstro que sobre eles tinha reinado, poderiam mostrar, antes ser celebrada a Hércules a alta posição, e Creonte deu a ele por casamento a filha Mégara, distribuiu para o povo comidas e bebidas, e durante três dias celebraram em festas e abriram os portões de alguns depósitos de trabalho. O rei e todos os dignitários vieram para ouvir Hércules, que ele seja o melhor, o mais forte, que realmente a ele o status seria garantido, que o débil e inferior Euristeu que a ele tinha roubado, e ao mesmo tempo, porém eles manobravam diante dele nascido no trono de Micenas, de onde ele enviou tropas pesadamente armadas sobre a terra, a massacrar os camponeses revoltados e a capturar os escravos fugitivos. Este foi a época da demência de Hércules, disse Heilmann, enquanto nos encontramos no pavilhão do mercado central, junto aos caminhões carregados até encima de caixas e engradados. Ele [Hércules] não notou, fascinado pelo charme de Mégara, que a guarda de segurança dele foi morta e enterrada, nenhum aviso de alerta atravessou os muros do castelo até ele, e quando ele pela primeira vez, na ocasião, em vestes de seda, atravessou os portões para a cidade, na qual, como ele julgava, a época da prosperidade havia chegado, ele encontrou apenas mendigos e crianças furiosas, e as pedras atiradas contra ele, e alguns artesãos ao passarem transmutaram-se, quando ele os chamou, dele se afastaram. Um único momento de desatenção pôde anular todo o alcançado, e então passaram-se meses, talvez até mesmo anos, os quais ele tinha gastado inativo, contudo, tinham sido usados pelo adversário, melhor armado, quando antes havia o Estado, e com isso, não deveriam se repetir os ataques-surpresa. Também os autores da Corte tinha já aprendido e, na dialética das ruas, criado uma poesia de escárnio, cujo tema era Hércules enganando os pobre, com grande discurso dele, a vã-glória dele, enquanto Euristeu, o Sábio, o Escolhido da Graça dos Altos Deuses, em muitos versos fizera votos de seu amor paternal ao povo. Às pessoas, das quais se diz o que elas sempre precisam, o que elas acreditam, o que elas podem venerar, estas foram para os espaços abertos onde se exibiam os desfiles, como se fosse uma festa para os olhos, com os carros de batalha, elmos com penachos, estandartes, e os discursos em alta voz a darem uma expressão de esperança, de que os conspiradores, que colocaram no caminho aquelas renovações, haviam sido removidos, e o Regente deseja que os cansados e famintos saibam que ele se preocupa com eles e deles se compadece, e com silente assombro os ouvintes descobririam que o que foi imposto sobre eles era uma situação de emergência. Como poderia Hércules ter lido com isso, nós nos perguntamos, junto ao canal, encostados ao fuliginoso parapeito-de-ferro, com arrebites salientes, branco-manchado de merda das aves, que antes estiveram lá, enquanto a ele o Iniciado a seguir adiante, tendo acreditado que uma ação isolada poderia ser suficiente como um exemplo, como uma revolução a ser alcançada. Ele uivou de ódio, disse Heilmann, ele ficou furioso em seus aposentos, menso por ter sido derrubado, pois ele sabia resistir, mas antes porque por causa dos inumeráveis outros, os que eram mais fracos do que ele, e sem influência, tinham sido deixados no sofrimento. Antes que ele insistisse na luta a empunhar as lanças, que a ele rodeavam, assassinou a esposa e também as crianças, que a mulher lhe dera, todos, a ele ligados, a eliminar todo parentesco, sem qualquer reconciliação, e nós até entendemos a fúria dele, quando desfilam marchando ruidosa uma tropa de sinistros coveiros, com caveira nos quepes [as tropas SS]. Porém, nós não entendemos porque ele, então, se enrolou num saco, coberto de cinzas, a seguir rumo a Micenas, para se submeter a Euristeu. Ele [Hércules] se humilhou, em desculpas, disse Heilmann, ele aceitou todo tipo de humilhação sobre si mesmo, pois era necessário que ele suportasse. Ao contrário de sofrer em câmaras de torturas, que já estavam prontas para ele, antes oferecera seus serviços aos monarcas e seguiu ao lado destes, que se vangloriavam de serem aliados, rumo a uma série de trabalhos cheios de perigo [os doze Trabalhos de Hércules]. Ao perceber suas falhas, nos mais variados lugares do país, ele voltava-se para um longo plano, com o qual esperava vencer este sistema do ressentimento, da dominação e do assassínio, mantido por Euristeu, com a ajuda de Hera. De início, não foi evidente o que os seus Trabalhos pretendiam, e é uma incerteza que se tem nas Sagas, sobre ele tão propagadas, preservadas até os dias atuais. Os eruditos deram, com reduzidos informes conhecidos, que Hércules, diante de Euristeu, colocara a sua vida em jogo ao redor do país, e depois em distantes regiões, a remover focos de revoltas e hostilidades. Os fabulistas nos mercados enfeitam com detalhes os Trabalhos do Enviado. Acima, a nordeste, em Nemeia, ele havia matado um leão, quando o agarrou por trás, a perfurar suas narinas com os dedos polegares e indicadores, enquanto o punho direito golpeava a boca aberta até o fundo da goela. Com a pele da besta, ele fez um manto, cujas pernas se cruzavam no peito, a bocarra aberta sobre a cabeça, e ele seguiu além , rumo ao sul, para o pântano de Lerna, onde habita a Hidra de nove cabeças. Assim soube-se que no réptil, ao ter a cabeça cortada, cresciam duas outras novamente, tal foram narradas no Basaren [local de Berlim, com basares e feira pública] logo dispersas sobre Hércules, das quais nos valemos, com sua grande foice escura, como se diz, e seguiu em frente, como se fosse apenas uma jibóia. Ele não seria Hércules, dizem, se ele findasse um plano sem vitória. Com um tronco em brasa ele queima, após cada golpe, no toco do pescoço da Hidra, e assim impede a regeneração. Os ouvintes meneiam a cabeça, incrédulos, e fazem estalos com a língua. Porém quando Hércules então dos montes Erímanto veio com um javali capturado, um imenso animal a espumar de fúria, levantado seguro pelas patas traseiras, a adentrar o palácio e a sala do trono, onde o rei enviado dos Deuses tremia de medo dentro de um vaso de argila, foi mesmo necessária uma boa gargalhada, e muito se começou a antecipar ao que Hércules pretendia. Desde então aumentou a fama dele novamente para aqueles que já o tinham dado por esquecido, e é dito que ele seguiu para o Lago de Estínfalo, para eliminar as aves monstruosas, que eram uma peste naquela região, lá aninhadas acima das plantações, assim nas narrativas das crianças, enquanto ele atirava no ar, com movimentos rápidos-fulminantes, as flechas agudas, logo triunfante sobre os montes de vítimas cheias de penas aniquiladas. Com efeito, muitos eram os estragos que as aves causavam, invadindo os rebanhos, mas tudo veio em vantagem dos senhores da Corte, que faziam tudo para rivalizar com Hércules, ao explorar as regiões além do arquipélago [de Micenas]. Logo irrompeu uma época de navegações marítimas, e descobertas revolucionárias. Enquanto dos Aristocratas seus pensadores a fazerem sempre grande esforço para descreverem as vantagens dos distantes Trabalhos de Hércules, do que falavam tanto quanto os que nada tinham, os sem-propriedades. Que novidade traziam sobre Hércules, perguntavam sempre, e assim orgulhosos dele, porque ele deixou de joelhos o touro que espirra fogo, amansou os cavalos comedores-de-carne-humana, derrubou o Gigante de três cabeças e ganhou a amizade de Atlas, e assim crescia a rixa com Euristeu, que , com os sussurros de Hera no ouvido, sempre tentava novamente perseguir o herói com os infortúnios, para fazê-lo fracassar. Foi na época, disseram os trabalhadores, que à noite no covil sentados juntos, que ele retorna, coisa que ninguém mais duvida, até Euristeu a deliberar junto aos seus latifundiários e generais, enquanto ele [Hércules] atuava junto às Amazonas, ou qual a razão dos pilares à beira do Oceano [os montes no Estreito de Gibraltar a ligar o Mar Mediterrâneo ao Oceano Atlântico], enquanto ele se demorava nos Jardins das Hespérides [à Oeste, rumo ao Poente]. Ele devia, foi o que respondeu, o mundo todo medir com os seus passos, determinar ao redor, onde havia supremacia hostil ou possibilidades para o livre desenvolvimento. No entanto, os trabalhadores se preparavam desde dias antes, quando ele novamente estivesse entre eles. Aos abusos dos mercenários eles mantiveram calma e sangue-frio. Eles juntaram piche em adegas comuns, para, no momento apropriado, poderem colocar fogo nos arsenais. Quando deviam construir novos muros ao redor da fortaleza do rei, eles cuidaram então em incluir passagens para uma marcha ligeira. Eles sabiam que Euristeu, insone, percorria seus luxuosos salões e lá fora dos muros ouvia o sussurrar da iminente chegada de Hércules. Agora era muito tarde para os superiores lamentarem a libertação de Hércules, enquanto ordenavam na base do chicote uma maior vigilância dos soldados, ou a distribuírem nas cidades as esmolas do Governo. O inquietar que se espalha não era de se negar por muito tempo, a segurança das elites privilegiadas foi minada, nenhuma prece ou concentrações de tropas podia mais coagir o povo à reverência. Ainda mais os torturadores se enfureceram, e as masmorras se encheram com estes, que arbitrariamente da inquietação eram suspeitos. Porém, onde os verdadeiros presos se sentaram, revelaram-se certa manhã, ao alvorecer, quando Hércules entrou em Tebas, em companhia de um cão gigantesco, junto do qual todos em gritaria, em suas casas grandes e sólidas rastejaram para debaixo das camas, enquanto que os que passam as noites nos casebres ou sob céu aberto, ficaram atentos e se dirigiram até Hércules, quando ele chegava ao som de alegre trombone. Desde antes, quando ao guarda infernal [o cão Cérbero] dera ordem para ser inofensivo, Hércules em ataque dentro da Estrutura-do-Mundo, até cantando, o puxara com facilidade para fora das profundezas terrestres, e o levou até a praça do mercado, onde os soldados tinham removido os balcões mais altos, e ele [Hércules] mostrou aos servos e as servas, aos trabalhadores-diaristas e artesãos, aos agricultores e pescadores que se ajuntavam, e a infantaria a descansar. Ali Cérbero, aos miseráveis vira-latas, que, em consideração a numerosa multidão, a cauda encolheu e começou a choramingar. Em uma gaiola, ele [Hércules] tinha trazido uma águia, também este uma proeminência no sistema de coerção e ameaça, ela que foi vista antes a atormentar os desafiadores, os audazes e os auto-conscientes, a devorar o fígado dos rebeldes, de novo e de novo, e estes todos já tinham fim, assim podiam ver os habitantes de Tebas. Eles viram, em quais ressecadas pernas sarnentas o domínio se mantinha por fraudes e mentiras, e quão lamentável a ave, que ainda há pouco imperava orgulhosa sobre Prometeu, agora em suas penas suspensas, o quão embotadas eram as membranas a recobrirem os perigosos olhos relampejantes. Ao fim, também nos sofrimentos para o forjamento do Novo, amplo ali em Tebas, em Micenas, para a Era de Justiça. Porém, os habitantes sucederam-se, isso queremos saber, a propagar tal convencimento, que os dominadores nos palácios, as residências dos patrícios, vieram de joelhos arrastados e a pedirem indulgência, sempre de novo, enquanto [os revolucionários] se mantinham em dúvidas e hesitações, não necessariamente uma traição, mas uma conservada tolerância, que dava oportunidade para uma defesa, e até uma contra-ofensiva [das Elites]. Então não houve paz, disso já tínhamos ouvido, pois começaram guerras piores que antes. Hércules, porém, já não cogitava de ficar do lado dos Escravizados, disse Heilmann, junto ao guinchar das rodas de um bonde [elétrico, trólebus] lotado, vindo da Alexanderplatz [grande praça aberta em Berlim], virou para a rua Rosenhaler, ele tinha elucidado que todos os adágios mágicos que encontrou, e dominado incríveis animais, e a quem qualquer mortal gostaria de ser igual. O tempo dele de aprendizado tinham passado, então tudo o que ele fez, seria marcado por imensas mudanças, e ainda conservava aliados, entre eles estava aquele que suportava a abóbada do Céu [o gigante Atlas]. Porém, disse Heilmann depois de um momento, quando passamos pelos fechados portais suportados pelo encurvado Titã, porém ele [Hércules] sofreria sob medonho tormento, nunca antes sofrido por ninguém, quando tentava arrancar a camisa com o envenenado sangue de Nessos [o Centauro] a queimar sua pele, e não conseguindo, na loucura da dor foi jogar-se numa sempre abrasante pira no alto do monte Oite.
.
.
mais sobre os Trabalhos de Hércules
http://www.mundodosfilosofos.com.br/hercules.htm
sobre o desafio de Prometeu aos Deus
http://www.mundodosfilosofos.com.br/prometeu.htm
...

LdeM



[pausa]

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Vol. 1 - bloco 2 ...




[pausa]




Nós nos situamos, disse Coppi, após o cruzamento das praças entre o Museu, a Catedral e o canal do Arsenal [Zeughauskanal], diante do imóvel vigia de uniforme cinza com capacete-de-aço junto ao monumento, nessas prisões ainda é lugar para os que marcham, que, querendo ou não, ficam no caminho, dilacerados, sangrados, sob as coroas com faixas de seda. Heilmann, sob a folhagem das tílias [Unter den Linden], apontou acima para as entronadas poltronas com pés-em-garra, aos batidos livros dos meditativos irmãos Humboldt, ao amplo pátio anterior, na Universidade [Humboldt Universität], a qual ele, se preparou antes e corretamente para obter o Abitur [certificado de estudos secundários], pois desejava dedicar-se ao curso de relações internacionais. Preparado, ele [Heilmann] dominava Inglês e Francês, e na escola noturna, onde nós o conhecemos, ele estava à procura de contatos para aulas do inconveniente idioma russo. O ensino noturno estatal, ponto de encontro para proletários e burgueses renegados [cidadãos não confiáveis], era nosso principal centro de educação, depois que Coppi, com dezesseis anos, abandonou a Escola-Ilha [Schulinsel] Scharfenberg [internato na ilha homônima no Lago Tegel] e depois eu mesmo, um ano mais tarde, pela última vez tinha viajado na barca da terra firme para a área de acampamento no Tegel [Tegelforst]. Aqui foi útil o curso básico sobre os romances de Dostoiévski e Turgueniev, a discutir a situação pré-revolucionária na Rússia, assim como disciplina nacional-econômica deu-nos instrução para as atuações com a economia planificada soviética. A Associação dos médicos socialistas bem como um estipêndio do Partido Comunista, a cuja organização jovem Coppi pertencia, visitamos a escola na ilha de Scharfenberg, na época uma instituição habilitada e prestigiada. Antes de todos, Hodann, médico municipal, Diretor da Secretaria de Saúde em Bezirk Reinickendorf, chefe do Instituto para pesquisas da sexualidade, havia sido, e quem haviam nos aceitado. Estávamos junto a ele nas sessões de perguntas abertas [Fragenabenden] no auditório Ernst Haeckel, onde tratava e atuava, até sua prisão e fuga no ano trinta e três, muitas vezes partilhou de discussões sobre Psicologia, Literatura e Política, regularmente ocorria a cada segunda semana em sua casa na rua Wiesener, em um loteamento em Tempelhof. Coppi era aprendiz ingresso a Siemens, e não conseguiu manter a frequência escolar após a chamada 'tomada de poder' [Machtergreifung] do regime nacional-socialista [nazista], e eu tinha conseguido um emprego como ajudante-de-almoxarifado na Alfa Laval, onde meu pai era chefe de seção de montagem de separatores [Separatoren, centrífugas para separar o creme do leite, invenção de Gustaf de Laval]. Aqui, numa baixa e alongada construção feita de tijolos expostos na rua Heidestraße, entre os terrenos do depósito Lehrter, com suas oficinas, armazéns, pavilhões de locomotivas e trens em manobras, e no tumulto dos barcos-de-carga no canal, que unia o porto Humboldt com o porto Norte, estava eu ocupado com o recebimento de parte do equipamento, que chegava de Hamburg, de Bergedorfer Eisenwerk, e vindo da matiz de Estocolmo, bem como as embalagens das pré-fabricadas centrífugas para as fábricas de laticínios. No fim de mil novecentos e trinta e quatro meus pais tinham decidido retornar para a Tchecoslováquia, o país ao qual pertenciam os nossos passaportes após o Tratado de Versalhes e Trianon, eu mesmo permanecia em meu local de trabalho, apto a continuar à noite o curso para o exame final. Depois da mudança de meus pais, eu tinha o quarto de nosso apartamento na rua Pflugstraße, na vizinhança de Wedding, já alugado para uma família, por isso eu dormia, como antes eu fazia, na cozinha, onde ressoava muito próximo, vindo lá de baixo, o incessante tilintar e apitar das locomotivas da estação Stettiner, a substituir os ruídos do meu trabalho lá em Moabit. Enquanto isso, já sendo montador auxiliar, na primavera de trinta e sete, eu fui demitido por causa de uma redução na empresa, e desde então encontrei-me à procura de uma oportunidade de trabalho, sempre em perigo de ser expulso, ou, em vista de inquérito, solicitar para mim a cidadania alemã, e precisar apresentar-me ao serviço militar, serviço que eu devia também à minha pátria, ainda este outono, pois eu devia aguardar uma ordem de recrutamento da embaixada tchecoslovaca, uma pátria para mim desconhecida. Mas findaram os cursos para a obtenção do Abitur, bem como os estudos em Medicina e Economia, aos quais eu tinha ao mesmo tempo dedicado, provisoriamente, então deviam agora pressionar as obrigações militares, assim eu teria uma missão para mim lá na Espanha. Assim para Coppi e muitos outros, assim faltava para mim uma carreira profissional mais estável no currículo, nossa missão principal percebemos na atividade política, e meu caminho levava-me para fora do país, no qual eu havia crescido. Coppi tinha encontrado seu caminho aqui, ele era um qualificado torneiro mecânico, depois de sua pena na prisão foi forçado, quando desempregado, a vender cadarços, jornais e sorvetes numa banca diante do cinema Moinho Vermelho [Rote Mühle] junto a Estação ferroviária [Bahnhof Halensee], e devia agora, sempre filiado ao ilegal Partido Comunista, juntar-se ao trabalho compulsório, num canteiro de obras de uma estrada fora de Spandaus. Para Heilmann a instrução ainda era regulada. Ele era, depois de seu pai, antes professor na Escola Superior Técnica em Dresden, havia assumido uma posição executiva na Secretaria municipal de Obras Públicas de Berlim, e ingressado na Escola Herder [Herderschule], e morava com os pais na rua Hölderlinstraße, na imediata vizinhança da praça, onde cuspismos, aquela chamada Praça da Chancelaria [Reichkanzlerplatz], quando diante do seu brasão. Não ao pensar nos desfiles da conquista, disse Heilmann, devia o cinzento guarda lá plantado, com joelhos arqueados, o fuzil da mão ao ombro, em pé diante do templo, antes a vigiar os arredores, pois nenhuma ordem de marchar foi dada, e somente deveria merecer a cova aqueles que faziam oposição à Tirania. Rondas, a seguir desvios, junto a multidão da rua Friedrichstraße para dentro dos arcos e bifurcações da passagem, após o panóptico e as vitrines dos pintores da corte, que depois do gosto do Chanceler a sufocante hipocrisia dos êxtases grão-alemães pintados na nudez de extasiados jovens, moças e moços, então na rua Georgestraße, ao longo do viaduto, no trovoar dos trens da estação urbana, de volta para Kupfergraben, acima da ponte ao Palácio Monbijou, nos jardins à margem, após o Chamisso [busto do poeta e botânico], com seu cabelo longo até os ombros, encima do vermelho pedestal de mármore, a Bolsa [de Valores] atrás e ultrapassando, dobrando para o Mercado Hackescher, até a rua Rosenthaler, esquina com Linienstraße, onde vivia a família Coppi no terceiro andar do segundo pátio, revelou-nos Heilmann, aqui e ali também já sugerindo a intenção de Hércules, tendo, desde muito tempo, num caderno de anotações a esboçada representação de uma sociedade futura, na qual foram aperfeiçoadas, após experiências de coerção, fraudes, humilhações e todo tipo de tortura, os ordenamentos habituais, as leis e tabus. Cada inquietação das autoridades, cada submissão, cada obedecer do trabalho, esteja aqui, disse ele, num fôlego, a confusão seja finda, em comum o melhor seja para cada um iguais, haveria voluntarismo e completo equilíbrio, não haveria mais qualquer status, posição social, nenhuma porta fechada, atrás das quais decisões secretadas fossem acertadas, tudo encontrasse então na opinião pública, sempre permitindo uma observação e controle. Aqui, onde cada manobra, cada ordem coletiva, nos quais os participantes deviam eles mesmos determinar e tudo o que criassem pertenceria a todos eles, onde cada qual poderia se educar sobre as próprias necessidades, e deveria a auto-consciência, o orgulho e a diversão tornar-se uma marca. Igual em forma, disse Coppi, aos pensamentos de Saint Just, Babeuf, Proudhon tomados em empréstimo, poderiam apenas conduzir ao Anarquismo, ao Caos. Teu Estado, que em si mesmo faz-se supérfluo, porque não precisaria mais apoiar uma classe dominante, e porque ninguém mais deve ser suprimido, bem lembrado quanto ao gênero, sobre o que Lenin teria dito, que sejam capazes de se desfazerem dos velhos trastes, questão ainda a cada fase preparatória, que tens deixado na obscuridade mística, e com algo de autoritário, quando a Revolução acontece. Se com armas tivessem os vencedores imposto suas vontades aos vencidos, ao espalhar o terror, ao reafirmar o poderio, e antes que se diga um declínio do Estado, antes seja a se formar um novo Estado, com as normas de uma nova vida coletiva, e então começariam os problemas cotidianos, diante dos quais qualquer teoria revela o quanto vale. .... ....


...


[trad. LdeM]

sábado, 12 de junho de 2010

vol. I - bloco 1 (final)


.... Realmente foram formas superdimensionadas que os bárbaros haviam derrubado, e assim não foram eternizadas, enquanto lá embaixo na cidade, nas ruelas, funcionavam os moinhos, as ferrarias e manufaturas, os ofícios no mercado, nas oficinas, os estaleiros no porto, também havia o santuário acima uns trezentos metros no alto monte, numa área cercada por muros de armazéns, casernas, termas, teatro, edifícios administrativos e palácios das clãs regentes, apenas acessíveis ao povo nos dias festivos, realmente ficaram apenas os nomes de alguns dos mestres se conservou, Menecrates, Dionisades, Orestes, e não os nomes daqueles que marcaram os esboços acima dos blocos de pedra, com broca e compasso os pontos-de-corte estabelecidos e que tinham treinado todo o senso artístico nas camadas-de-pedra, e não lembrado o trabalho penoso, ao quebrem o mármore e os grandes blocos que arrastaram em carros-de-boi, e apesar disso, disse Heilmann, alcançou o friso não apenas a vizinhança dos deuses em fama, mas também àqueles para os quais o domínio estava oculto, pois não eram ignorantes, e ao eterno não serviriam, mas quando do término da construção eles se ergueram, sob a orientação de Aristonikos [futuro Eumenes III], contra os líderes da cidade. De fato, os conflitos sempre estiveram ligados à Obra, desde quando surgiu. Quanto a isso, pode-se se perguntar quanto ao poder da realeza, em suas características de estilo, e predomínio de escultura. Pérgamo estava em sua época de esplendor, antes de cair no poderio do Império Bizantino, e a cidade era famosa por seus acadêmicos, e sábios, suas escolas e bibliotecas, e os peculiares pergaminhos, aqueles feitos da mais leve, raspada, polida pele de bezerro, que produziram como resultado de pesquisa e invenção constantes. O emudecer, o paralisar daqueles cujo destino foi este, o de serem pisados na terra, foi além do notável. Eles, os verdadeiros portadores das cidades jônicas, não informados por leituras e escritos, excluídos da atuação artística, valeram apenas a isto, a criar o necessário lazer a uma pequena camada de beneficiários da riqueza e da Elite de pensadores. A existência dos divinos foi inacessível para eles, que apenas poderiam se reconhecer nos seres embrutecidos e ajoelhados. Aqueles trazidos em maus-tratos, degradação e opressão, em desfile. O que transmitiu à representação do voo dos deuses e a aniquilação do acumulante perigo não a luta dos bons contra os maus, mas sim a luta entre as classes. Não apenas em nossa atual perspectiva, mas também reconhecida no olhar oculto dos servos daquela época. Porém, também a história posterior do Altar foi determinada pelos empreendimentos dos enriquecidos. Quando os fragmentos da imagem, que foram enterradas sob as ruínas de uma pré-asiática mudança de poder, ressurgiu à luz do dia, foram novamente os pensadores, os esclarecidos, os avaliadores que souberam aproveitar, enquanto os pastores e nômades, os descendentes dos construtores do templo, dos Maiorais de Pérgamo não viam nada além de poeira. Porém, além disso, não houve qualquer queixa, disse Heilmann, então preferiu-se a preservação dos fragmentos brilhantes da cultura helênica em um Mausoléu do mundo moderno onde deixar estes escombros anatólicos de um funeral sem-vestígios. Ali o nosso objetivo deveria ser a abolição da injustiça, o fim da pobreza, disse ele, e ao se considerar também o país num estado-de-transição, poderíamos nestes lugares demonstrar uma ampliada posse comum, que foi concedida na monumentalidade das formas. Assim nós vimos na luz mortiça dos abatidos e perecidos. A boca de um dos forçados, à quem o cão estava preso pelo ombro, estava meio-aberta, resfolegante. Sua mão esquerda repousa débil acima do tempestuoso pé de Artemis, revestido de couro, seu braço direito estava ainda erguido em auto-defesa, mas aos quadris já congelado, e suas pernas tornavam-se parte da massa esponjosa. Nós ouvíamos os golpes dos porretes, os estridentes apitos, os gemidos, o gorgolejar do sangue. Nós olhamos de volta à pré-história, e um momento longo encheu-se também com a perspectiva dos vindouros, as novas gerações, com massacres, que não se impregnaram da ideia de libertação. A eles, os subjugados, para ajudá-los devia chegar o Hércules, não para estes aos quais as armas e os tanques têm sido suficientes. Ao emergir das figurações havia uma relação, uma uniformidade na pedra. Nas fraturas do mármore às encostas da montanha ao norte da fortaleza tinham os mestres-escultores deixado à mostra, com suas longas estacas, nos melhores blocos e junto aos prisioneiros gálatas observados junto aos trabalhadores no abafado calor. Protegidos e refrescados por ramos de tâmaras, os olhos do ofuscante sol juntos apertados, recuperam os movimentos dos músculos, as flexões e distensões dos corpos suados. Os guerreiros vencidos arrastados em correntes, os presos por cordas sobre as escarpas rochosas, alavancas e cunhas golpearam nas camadas-estratos das branco-azuladas cristalinas brilhantes pedras calcáreas e os enormes blocos carregados por trenós de longos madeirames nos sinuosos caminhos desde abaixo, assim devido a rusticidade deles, os chamados costumes rudes deles, e temerosos andaram os senhores com seus cortejos junto a eles ao entardecer, quando eles [os servos] fediam, bêbados de aguardente vulgar, armazenados em uma cova. Porém, acima dos jardins da fortaleza, ao vento leve, que vem subindo do mar, eram as grandes faces barbudas a eles a matéria dos sonhos, e eles se lembraram, como haviam ordenados aos demais, a continuarem também de olhos abertos, boca aberta a mostrar os dentes, as veias inchadas nas têmporas, e testa, nariz e bochecha a brilharem na penumbra. Eles ouviram ainda o empurrar e o golpear, o levantar dos ombros e costas contra o peso das pedras, os ritmados gritos, as imprecações, as chicotadas, o ranger das vasilhas na areia, e viram adormecerem as formas dos frisos nos esquifes de mármore. Lentamente eles entalharam os membros expostos, apalparam, viram as formas se esboçarem, que era a perfeição das criaturas. Quando o roubado da energia deles transmitiu-se em pensamentos relaxados e à mostra, que a Arte era originada da dominação e da humilhação. Através do ruidoso redemoinho de uma classe escolar empurramo-nos no espaço mais próximo, a elevar-nos nos portais do mercado de Mileto ao crepúsculo. Das colunas do portão, da administração do porto ao amplo local de comércio tinham seguido, perguntou Heilmann, ou teríamos percebido como no interior lá na sala do Altar uma função espacial invertida, desse modo, que áreas externas viraram interior de muralhas. Com a face voltada para a escadaria ocidental, ele disse, tínhamos atrás de nós o lado oriental, assim o lado posterior do templo apenas em princípio reconstruído, e à direita estendem-se abertos os frisos meridionais, enquanto à esquerda o relevo segue aos frisos setentrionais. Que junto a lenta descrição deveria ser apreendida, agora colocada, por sua vez, ao redor do espectador. Este vertiginoso evento deixaria-nos compreender finalmente a Teoria da Relatividade, acrescentou ele assim, quando nós, ainda alguns poucos séculos mais fundo avançando, ao longo do muro de tijolos de argila, que se encontra primeiramente nas torres babilônicas de Nabucodonosor, e então subitamente a percorrer um pátio público, onde a folhagem amarelada, zunantes manchas de sol, ônibus amarelo-claro de dois andares, automóveis com reflexos relampejantes, torrentes de passantes e o ressoar compassado de botas com pregos exigiram um rearranjo de nossa orientação, uma nova indicação espacial.


[pausa]





bl2........ next




LdeM

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Vol I / bloco I ...

...
.... A face lúcida de Heilmann, com perfil regular, com sobrancelhas espessas, a testa elevada, tinha encarado a Demônia da Terra. Ela [Gaia] tinha gerado Uranos, o Céu, Pontos, o Mar e todas as montanhas. Ela tinha gerado os Gigantes, os Titãs, os Ciclopes e as Erínias. Ali também a nossa espécie. Examinamos a história dos terrestres. Novamente olhamos aqueles que se espalharam sobre a terra. As ondas dos cabelos revoltos fluíam ao redor. Sobre os ombros carregavam um saco-de-peles cheio de romãs. Folhagens, folhas de parreiras ocultavam a nudez deles. No lado bem acima do rude e habilidoso plano das faces se reconhecia o toque de uma Graça de boca suplicante. Uma ferida abre-se do queixo até a laringe. Alcioneu, seu filho amado, volta-se, ajoelhado, inclinado perante ela. A ponta de sua mão apalpa-a. Dele o pé esquerdo, rumo a uma estendida e quebrada perna suspensa, ela ainda apalpa. Canela, abdômen, ventre e peito excitados em convulsões. Da pequena ferida, que a ele o réptil venenoso tinha golpeado entre as costelas, irradia-se a dor da morte. A ampla estendida vibração das aves ribeirinhas, que cresceram no ombro dele, retardaram sua queda. O contorno das fragmentadas faces sobre ele, com a rígida linha do pescoço, os cabelos atados encima, presos sob o elmo, expressa a Inexorabilidade de Atena. No ímpeto do movimento voou de volta ao seu amplo vestido cingido. Sob o deslizante traje deixa-se visível seu peito esquerdo na armadura de escamas, com a pequena e inchada face da Medusa. O peso do escudo redondo, em cuja correia o braço dela se encaixa, puxado adiante, para novos golpes, a Nike, deusa alada da Vitória, veloz, com suas asas poderosas, folgadas saias aéreas, detiveram-na a coroa, invisível, mas a se adivinhar além dos gestos, sobre cabeça. Heilmann apontou a esfumaçada Deusa da Noite Nyx, a qual, com um sorriso suave, lançava seu jarro cheio de serpentes ao manto semi-aberto que ondulava ao redor de Zeus, que com seu escudo, à pele dos perdidos, três inimigos chicoteava, e acima Eos, Deusa da Aurora, como se cavalgasse as nuvens, junto a ascendente parelha-dupla do desnudo deus-do-sul Helios. Assim irrompeu, diz ele [Heilmann] suavemente, o medonho massacre, em outro dia próximo, e já avançado no espaço envidraçado das raspas dos pés sobre o chão polido, o tiquetaqueante eco das solas dos sapatos sobre os íngremes degraus, que conduzem a erguida fronte ocidental do templo até aos pórticos do pátio interno. Outra vez nos encaminhamos aos relevos, que revelava em suas relações a todo momento, na violenta modificação antes-mantida, ao instante, no qual a concentrada força deixa adivinhar a inevitável consequência. Enquanto vimos a lança preparada antes do arremesso, a clava antes de abaixada, o impulso antes do salto, o recuo antes da colisão um com o outro, movia-se nosso olhar de figura a figura, de uma situação a outra, e em todo o círculo, ao redor, começou a vibrar a pedra. Porém, de Hércules, sentimos a falta, o único mortal, o qual, segundo a Saga, aliou-se aos Deuses na luta contra os Gigantes, e procuramos entre os corpos na parede, os restos de membros, aquele filho de Zeus e Elcmena, o aliado terrestre, que através da bravura e persistente trabalho encerraria o tempo das desventuras. Apenas encontramos uma marca do nome dele, e a pele de leão, que ele trajava como se fosse um manto, senão testemunhava não mais de sua posição entre a parelha de quatro cavalos de Hera e o atlético corpo de Zeus, e Coppi considerou isso um presságio, que justo ele, o nosso semelhante, e que nós mesmos tínhamos feito imagem dos feitos deste intercessor. Desse modo à apertado e baixo acesso ao lado dos salões iluminou-nos à saída no torvelino nos tumultos dos visitantes do museu, ao encontro dos uniformizados de preto [SS] e pardo [SA] com suas braçadeiras vermelhas, e sempre quando eu mergulhava o olhar no fundo branco do emblema, girante e cortante, voltava para a aranha venenosa bruscamente cabeluda pintada com lápis, tinta, tinta nanquim, sob a mão de Coppi, assim como eu a conhecia desde as aulas no Instituto Scharfenberger, quando Coppi sentava-se numa carteira ao meu lado, a figurar estampada sobre pequenas imagens, anexos, guarda-louça, até nas caixas de cigarro, sobre recortadas ilustrações de jornais, o símbolo e emblema dos novos senhores, as gordas faces, aqueles com colarinhos de uniformes levantados, cheios de verrugas, presas, rugas perversas e sangue derramado. Também Heilmann, nosso amigo, vestia a camisa parda, com mangas enroladas, a correia no ombro, a corda do apito, o punhal na calça curta, porém ele vestia este uniforme como disfarce, como disfarce para seu próprio entendimento, e enquanto disfarce para Coppi, que vem de um trabalho ilegal, e para mim, que estava pronto para viajar à Espanha. Assim estávamos em vinte e dois de setembro de mil novecentos e trinta e sete, dois dias antes de minha viagem, diante do extenso e reconstruído friso do altar da acrópole de Pérgamo, o primeiro, pintado colorido e construído com metais forjados, que tinha brilhado à luz dos céus do Mar Egeu. Heilmann informou as dimensões e a localização do Templo, como este se mostrava, quando ainda intacto, não danificado por tempestades de areia, terremotos, pilhagens, depredações e incêndios, disposto em terraços na colina das residências, acima da cidade, hoje chamada de Bergama, em elevada plataforma, cento e dez quilômetros ao norte de Esmirna, entre os estreitos e ressequidos rios Keteios e Selinos, mirando à oeste, sobre a Mísia, na Anatólia, no curso dos mares e a ilha de Lesbos, uma arquitetura de bases quase quadradas, trinta e seis a trinta e quatro metros de dimensão, vinte metros o amplo lance de escadaria, edificada por Eumenes II, em agradecimento aos Deuses pela concedida ajuda na guerra, no ano cento e oitenta antes da nossa Era, iniciada e construída durante vinte anos, amplamente visível, no século II depois de Cristo, enumerada por Lucius Ampelius, em seu livro de memórias, entre as Maravilhas do Mundo, antes que se degenerasse em ruínas durante um milênio. E é esta massa de pedra, perguntou Coppi, que serviu ao culto dos princescos sacerdotes, a exaltar a vitória dos Aristocratas sobre a multidão de plebeus servos-da-gleba, que agora tornou-se um valor destacado e gratuito, pertencente a todos, exposto. ...
...
...