sábado, 12 de junho de 2010

vol. I - bloco 1 (final)


.... Realmente foram formas superdimensionadas que os bárbaros haviam derrubado, e assim não foram eternizadas, enquanto lá embaixo na cidade, nas ruelas, funcionavam os moinhos, as ferrarias e manufaturas, os ofícios no mercado, nas oficinas, os estaleiros no porto, também havia o santuário acima uns trezentos metros no alto monte, numa área cercada por muros de armazéns, casernas, termas, teatro, edifícios administrativos e palácios das clãs regentes, apenas acessíveis ao povo nos dias festivos, realmente ficaram apenas os nomes de alguns dos mestres se conservou, Menecrates, Dionisades, Orestes, e não os nomes daqueles que marcaram os esboços acima dos blocos de pedra, com broca e compasso os pontos-de-corte estabelecidos e que tinham treinado todo o senso artístico nas camadas-de-pedra, e não lembrado o trabalho penoso, ao quebrem o mármore e os grandes blocos que arrastaram em carros-de-boi, e apesar disso, disse Heilmann, alcançou o friso não apenas a vizinhança dos deuses em fama, mas também àqueles para os quais o domínio estava oculto, pois não eram ignorantes, e ao eterno não serviriam, mas quando do término da construção eles se ergueram, sob a orientação de Aristonikos [futuro Eumenes III], contra os líderes da cidade. De fato, os conflitos sempre estiveram ligados à Obra, desde quando surgiu. Quanto a isso, pode-se se perguntar quanto ao poder da realeza, em suas características de estilo, e predomínio de escultura. Pérgamo estava em sua época de esplendor, antes de cair no poderio do Império Bizantino, e a cidade era famosa por seus acadêmicos, e sábios, suas escolas e bibliotecas, e os peculiares pergaminhos, aqueles feitos da mais leve, raspada, polida pele de bezerro, que produziram como resultado de pesquisa e invenção constantes. O emudecer, o paralisar daqueles cujo destino foi este, o de serem pisados na terra, foi além do notável. Eles, os verdadeiros portadores das cidades jônicas, não informados por leituras e escritos, excluídos da atuação artística, valeram apenas a isto, a criar o necessário lazer a uma pequena camada de beneficiários da riqueza e da Elite de pensadores. A existência dos divinos foi inacessível para eles, que apenas poderiam se reconhecer nos seres embrutecidos e ajoelhados. Aqueles trazidos em maus-tratos, degradação e opressão, em desfile. O que transmitiu à representação do voo dos deuses e a aniquilação do acumulante perigo não a luta dos bons contra os maus, mas sim a luta entre as classes. Não apenas em nossa atual perspectiva, mas também reconhecida no olhar oculto dos servos daquela época. Porém, também a história posterior do Altar foi determinada pelos empreendimentos dos enriquecidos. Quando os fragmentos da imagem, que foram enterradas sob as ruínas de uma pré-asiática mudança de poder, ressurgiu à luz do dia, foram novamente os pensadores, os esclarecidos, os avaliadores que souberam aproveitar, enquanto os pastores e nômades, os descendentes dos construtores do templo, dos Maiorais de Pérgamo não viam nada além de poeira. Porém, além disso, não houve qualquer queixa, disse Heilmann, então preferiu-se a preservação dos fragmentos brilhantes da cultura helênica em um Mausoléu do mundo moderno onde deixar estes escombros anatólicos de um funeral sem-vestígios. Ali o nosso objetivo deveria ser a abolição da injustiça, o fim da pobreza, disse ele, e ao se considerar também o país num estado-de-transição, poderíamos nestes lugares demonstrar uma ampliada posse comum, que foi concedida na monumentalidade das formas. Assim nós vimos na luz mortiça dos abatidos e perecidos. A boca de um dos forçados, à quem o cão estava preso pelo ombro, estava meio-aberta, resfolegante. Sua mão esquerda repousa débil acima do tempestuoso pé de Artemis, revestido de couro, seu braço direito estava ainda erguido em auto-defesa, mas aos quadris já congelado, e suas pernas tornavam-se parte da massa esponjosa. Nós ouvíamos os golpes dos porretes, os estridentes apitos, os gemidos, o gorgolejar do sangue. Nós olhamos de volta à pré-história, e um momento longo encheu-se também com a perspectiva dos vindouros, as novas gerações, com massacres, que não se impregnaram da ideia de libertação. A eles, os subjugados, para ajudá-los devia chegar o Hércules, não para estes aos quais as armas e os tanques têm sido suficientes. Ao emergir das figurações havia uma relação, uma uniformidade na pedra. Nas fraturas do mármore às encostas da montanha ao norte da fortaleza tinham os mestres-escultores deixado à mostra, com suas longas estacas, nos melhores blocos e junto aos prisioneiros gálatas observados junto aos trabalhadores no abafado calor. Protegidos e refrescados por ramos de tâmaras, os olhos do ofuscante sol juntos apertados, recuperam os movimentos dos músculos, as flexões e distensões dos corpos suados. Os guerreiros vencidos arrastados em correntes, os presos por cordas sobre as escarpas rochosas, alavancas e cunhas golpearam nas camadas-estratos das branco-azuladas cristalinas brilhantes pedras calcáreas e os enormes blocos carregados por trenós de longos madeirames nos sinuosos caminhos desde abaixo, assim devido a rusticidade deles, os chamados costumes rudes deles, e temerosos andaram os senhores com seus cortejos junto a eles ao entardecer, quando eles [os servos] fediam, bêbados de aguardente vulgar, armazenados em uma cova. Porém, acima dos jardins da fortaleza, ao vento leve, que vem subindo do mar, eram as grandes faces barbudas a eles a matéria dos sonhos, e eles se lembraram, como haviam ordenados aos demais, a continuarem também de olhos abertos, boca aberta a mostrar os dentes, as veias inchadas nas têmporas, e testa, nariz e bochecha a brilharem na penumbra. Eles ouviram ainda o empurrar e o golpear, o levantar dos ombros e costas contra o peso das pedras, os ritmados gritos, as imprecações, as chicotadas, o ranger das vasilhas na areia, e viram adormecerem as formas dos frisos nos esquifes de mármore. Lentamente eles entalharam os membros expostos, apalparam, viram as formas se esboçarem, que era a perfeição das criaturas. Quando o roubado da energia deles transmitiu-se em pensamentos relaxados e à mostra, que a Arte era originada da dominação e da humilhação. Através do ruidoso redemoinho de uma classe escolar empurramo-nos no espaço mais próximo, a elevar-nos nos portais do mercado de Mileto ao crepúsculo. Das colunas do portão, da administração do porto ao amplo local de comércio tinham seguido, perguntou Heilmann, ou teríamos percebido como no interior lá na sala do Altar uma função espacial invertida, desse modo, que áreas externas viraram interior de muralhas. Com a face voltada para a escadaria ocidental, ele disse, tínhamos atrás de nós o lado oriental, assim o lado posterior do templo apenas em princípio reconstruído, e à direita estendem-se abertos os frisos meridionais, enquanto à esquerda o relevo segue aos frisos setentrionais. Que junto a lenta descrição deveria ser apreendida, agora colocada, por sua vez, ao redor do espectador. Este vertiginoso evento deixaria-nos compreender finalmente a Teoria da Relatividade, acrescentou ele assim, quando nós, ainda alguns poucos séculos mais fundo avançando, ao longo do muro de tijolos de argila, que se encontra primeiramente nas torres babilônicas de Nabucodonosor, e então subitamente a percorrer um pátio público, onde a folhagem amarelada, zunantes manchas de sol, ônibus amarelo-claro de dois andares, automóveis com reflexos relampejantes, torrentes de passantes e o ressoar compassado de botas com pregos exigiram um rearranjo de nossa orientação, uma nova indicação espacial.


[pausa]





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LdeM

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