segunda-feira, 7 de junho de 2010

Vol I / bloco I ...

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.... A face lúcida de Heilmann, com perfil regular, com sobrancelhas espessas, a testa elevada, tinha encarado a Demônia da Terra. Ela [Gaia] tinha gerado Uranos, o Céu, Pontos, o Mar e todas as montanhas. Ela tinha gerado os Gigantes, os Titãs, os Ciclopes e as Erínias. Ali também a nossa espécie. Examinamos a história dos terrestres. Novamente olhamos aqueles que se espalharam sobre a terra. As ondas dos cabelos revoltos fluíam ao redor. Sobre os ombros carregavam um saco-de-peles cheio de romãs. Folhagens, folhas de parreiras ocultavam a nudez deles. No lado bem acima do rude e habilidoso plano das faces se reconhecia o toque de uma Graça de boca suplicante. Uma ferida abre-se do queixo até a laringe. Alcioneu, seu filho amado, volta-se, ajoelhado, inclinado perante ela. A ponta de sua mão apalpa-a. Dele o pé esquerdo, rumo a uma estendida e quebrada perna suspensa, ela ainda apalpa. Canela, abdômen, ventre e peito excitados em convulsões. Da pequena ferida, que a ele o réptil venenoso tinha golpeado entre as costelas, irradia-se a dor da morte. A ampla estendida vibração das aves ribeirinhas, que cresceram no ombro dele, retardaram sua queda. O contorno das fragmentadas faces sobre ele, com a rígida linha do pescoço, os cabelos atados encima, presos sob o elmo, expressa a Inexorabilidade de Atena. No ímpeto do movimento voou de volta ao seu amplo vestido cingido. Sob o deslizante traje deixa-se visível seu peito esquerdo na armadura de escamas, com a pequena e inchada face da Medusa. O peso do escudo redondo, em cuja correia o braço dela se encaixa, puxado adiante, para novos golpes, a Nike, deusa alada da Vitória, veloz, com suas asas poderosas, folgadas saias aéreas, detiveram-na a coroa, invisível, mas a se adivinhar além dos gestos, sobre cabeça. Heilmann apontou a esfumaçada Deusa da Noite Nyx, a qual, com um sorriso suave, lançava seu jarro cheio de serpentes ao manto semi-aberto que ondulava ao redor de Zeus, que com seu escudo, à pele dos perdidos, três inimigos chicoteava, e acima Eos, Deusa da Aurora, como se cavalgasse as nuvens, junto a ascendente parelha-dupla do desnudo deus-do-sul Helios. Assim irrompeu, diz ele [Heilmann] suavemente, o medonho massacre, em outro dia próximo, e já avançado no espaço envidraçado das raspas dos pés sobre o chão polido, o tiquetaqueante eco das solas dos sapatos sobre os íngremes degraus, que conduzem a erguida fronte ocidental do templo até aos pórticos do pátio interno. Outra vez nos encaminhamos aos relevos, que revelava em suas relações a todo momento, na violenta modificação antes-mantida, ao instante, no qual a concentrada força deixa adivinhar a inevitável consequência. Enquanto vimos a lança preparada antes do arremesso, a clava antes de abaixada, o impulso antes do salto, o recuo antes da colisão um com o outro, movia-se nosso olhar de figura a figura, de uma situação a outra, e em todo o círculo, ao redor, começou a vibrar a pedra. Porém, de Hércules, sentimos a falta, o único mortal, o qual, segundo a Saga, aliou-se aos Deuses na luta contra os Gigantes, e procuramos entre os corpos na parede, os restos de membros, aquele filho de Zeus e Elcmena, o aliado terrestre, que através da bravura e persistente trabalho encerraria o tempo das desventuras. Apenas encontramos uma marca do nome dele, e a pele de leão, que ele trajava como se fosse um manto, senão testemunhava não mais de sua posição entre a parelha de quatro cavalos de Hera e o atlético corpo de Zeus, e Coppi considerou isso um presságio, que justo ele, o nosso semelhante, e que nós mesmos tínhamos feito imagem dos feitos deste intercessor. Desse modo à apertado e baixo acesso ao lado dos salões iluminou-nos à saída no torvelino nos tumultos dos visitantes do museu, ao encontro dos uniformizados de preto [SS] e pardo [SA] com suas braçadeiras vermelhas, e sempre quando eu mergulhava o olhar no fundo branco do emblema, girante e cortante, voltava para a aranha venenosa bruscamente cabeluda pintada com lápis, tinta, tinta nanquim, sob a mão de Coppi, assim como eu a conhecia desde as aulas no Instituto Scharfenberger, quando Coppi sentava-se numa carteira ao meu lado, a figurar estampada sobre pequenas imagens, anexos, guarda-louça, até nas caixas de cigarro, sobre recortadas ilustrações de jornais, o símbolo e emblema dos novos senhores, as gordas faces, aqueles com colarinhos de uniformes levantados, cheios de verrugas, presas, rugas perversas e sangue derramado. Também Heilmann, nosso amigo, vestia a camisa parda, com mangas enroladas, a correia no ombro, a corda do apito, o punhal na calça curta, porém ele vestia este uniforme como disfarce, como disfarce para seu próprio entendimento, e enquanto disfarce para Coppi, que vem de um trabalho ilegal, e para mim, que estava pronto para viajar à Espanha. Assim estávamos em vinte e dois de setembro de mil novecentos e trinta e sete, dois dias antes de minha viagem, diante do extenso e reconstruído friso do altar da acrópole de Pérgamo, o primeiro, pintado colorido e construído com metais forjados, que tinha brilhado à luz dos céus do Mar Egeu. Heilmann informou as dimensões e a localização do Templo, como este se mostrava, quando ainda intacto, não danificado por tempestades de areia, terremotos, pilhagens, depredações e incêndios, disposto em terraços na colina das residências, acima da cidade, hoje chamada de Bergama, em elevada plataforma, cento e dez quilômetros ao norte de Esmirna, entre os estreitos e ressequidos rios Keteios e Selinos, mirando à oeste, sobre a Mísia, na Anatólia, no curso dos mares e a ilha de Lesbos, uma arquitetura de bases quase quadradas, trinta e seis a trinta e quatro metros de dimensão, vinte metros o amplo lance de escadaria, edificada por Eumenes II, em agradecimento aos Deuses pela concedida ajuda na guerra, no ano cento e oitenta antes da nossa Era, iniciada e construída durante vinte anos, amplamente visível, no século II depois de Cristo, enumerada por Lucius Ampelius, em seu livro de memórias, entre as Maravilhas do Mundo, antes que se degenerasse em ruínas durante um milênio. E é esta massa de pedra, perguntou Coppi, que serviu ao culto dos princescos sacerdotes, a exaltar a vitória dos Aristocratas sobre a multidão de plebeus servos-da-gleba, que agora tornou-se um valor destacado e gratuito, pertencente a todos, exposto. ...
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