sábado, 29 de maio de 2010

Vol 1 / I - bloco inicial (continua)

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E tal um gracioso cabelo enrugado, tal artísticas vestes modestas, enrugadas e apertadas, tal um gracioso ornamento ao cinto do escudo/brasão, à proa do elmo, tal o suave brilho da pele, pronta para as carícias, porém exposta à implacável competição, à laceração e aniquilação. Com a face semi-mascarada, detendo uns aos outros, e colidindo-se, uns aos outros estrangulando, escalando, à cavalo escorregando, na rédea envoltos, extremamente vulneráveis na nudez, e de novo raptados em olímpica frieza, invencíveis surgindo como monstro-do-mar, grifo, centauro, mas em caretas de dor e desespero, assim lutaram eles uns com os outros, amontoados na mais nobre missão, sonhando, inertes em louca-desvairada violência, silentes em inaudível ressoar, entrelaçados todos em uma metamorfose da dor, tremendo, agarrando-se, esperando um despertar, em constante suportar e contínuo revoltar-se, em inaudível ímpeto, em extrema tensão, a ameaça de conquista, a decisão de bradar. Um vago soar e sussurrar ressoou acima agora e de novo, o ecoar de passos e vozes ao nosso redor em longo momento, e então estava acima novo apenas esta batalha tão próxima, nosso olhar deslizou sobre os dedos nas sandálias, se afastando dos crânios dos derrotados, sobre os agonizantes, cuja mão paralisada repousa meiga sobre o braço da deusa, a segurar-lhe o topete. Do friso os combatentes da terra, de suas estreitas e regulares rondas lançavam-se na confusão, acima deles colidiam os cascos dos cavalos, acima deles arranhavam as orlas dos trajes e contorciam-se as pernas em forma de serpente, apenas a uma estrela sozinha era a base atravessada, aqui erguia-se a Demônia da Terra, com a face rachada abaixo da órbita dos olhos, os peitos maciços em delgado envoltório, os pedaços soltos de uma mão procurando erguida, a outra mão em suspenso a pedir, destacada da aresta de pedra e estendida para cima para perfilada vantagem, se esgueirando dedos nodosos, como se estivessem ainda sob a terra e desejasse alcançar a junta da aberta mão feminina sem-polegar, movimentam-se abaixo e ao longo dos frisos, buscando os manchados rastros de letras gravadas, e a face de Coppi, com olhos míopes detrás de óculos com delgados aros de aço, aproximou-se do caracter-hierógrifo que Heilmann decifrou, com a ajuda de um livro compartilhado. Coppi voltou-se para ele, concentrado, com ampla boca bem desenhada, grande e avançado nariz, e nós demos aos oponentes neste grupo seus nomes, e comentado, meio aos ruídos, as causas da luta. Heilmann, o de quinze anos, a cada dúvida que se mostra, que não tolerava nenhuma explicação não-imediata, de vez em quando também acrescentava a exigência poética ao proposital desregramento dos sentidos, queria ser cientista e vidente, ele, o nosso chamado Rimbaud, explica-nos, a nós já por volta dos vinte anos e na escola atrasados quatro anos, ele já conheceu a vida profissional, e também o desemprego, e Coppi, e seu longo ano na prisão, devido a divulgação de escritos subversivos, o sentido dessa ciranda, o unido grupo de deuses, guiados por Zeus rumo a vitória ao pisar sobre uma raça de gigantes e seres fabulosos. Os gigantes, os filhos da lamentante Gaia, do busto diante do qual ficamos parados, tinha se incriminado contra os deuses se rebelado, outra luta porém, acima do Reino de Pérgamo já acabado, resguardado sob esta representação. Os regentes da Dinastia dos Atálidas serviram-se de seus mestres-escultores, de breves delitos, que acabaram pagando com suas vidas, para se erguerem acima da existência com um monumento à Grandeza e à Imortalidade. A partir da submissão dos povos gálatas invasores vindos do norte, os nobres tiveram um triunfo sobre as forças rudes e vulgares, e os formão e martelo dos cortadores-de-pedra e seus artesãos tiveram a forma de uma não-derrubável ordem de súditos apresentados todos inclinados em reverência. Em místico disfarce aparece um evento histórico, imenso ao alcance, provocando horror, admiração, mas compreensível quando não invocado por pessoa, antes apenas aceitável se for uma força sobre-pessoal, que o dominado, o escravizado desejasse, em inumerável, e pouco acima, a fixar os destinos com um apontar de dedos. O povo quase não ousou quando se preparou para os dias festivos, a olhar para a imagem de sua própria história, e lá andar ao redor há tanto tempo, junto aos sacerdotes, os filósofos e os poetas, o artista que viajou para cá, cheio de conhecimentos até o templo, e era entregue para o iniciado em mistério mágico, era julgado sério para o adepto de um ofício. Os adeptos consagrados, os especialistas falam de Arte, eles elogiavam a harmonia do movimento, o emaranhar dos gestos, os outros, porém, nem ao menos conhecem o conceito de cultura e educação, a olhar furtivo na ampla goela, a notar o golpe da pata na própria carne. Prazer a facilitar a obra dos privilegiados, um estar-separado sob severa lei hierárquica os outros suspeitam. Algumas esculturas porém, disse Heilmann, não precisam ir além de seus símbolos, aquele caído, e por si mesmo abatido Gálata aponta a iminente Tragédia de uma situação real, estes porém, respondeu Coppi, não tivessem se encontrado em liberdade, senão entre os troféus nas salas-do-trono, somente em seguida indicam a quem foram tirados os escudos e elmos, os maços e feixes de espadas e lanças. Singular junto as garantias da dominação dos reis sucedendo-se nas guerras. Os deuses, que se confrontaram com os espíritos-da-terra, detêm vivamente as representações de determinadas proporções-de-força. Um friso cheio de soldados anônimos, os quais com ferramentas de bronze, atacaram em combates, durante anos, outros tantos anônimos, tivessem voltado a visão aos servos, ergueriam suas posições, pois não são os guerreiros, mas os reis, que levaram as vitórias, e quem venceu deve ser igualado aos deuses, enquanto os vencidos eram desprezados pelos deuses. Os privilegiados sabiam que nenhum dos deuses havia lhe entregue algo, pois eles sabiam bem que eles mesmos vestiam as máscaras. Tanto mais eles se impuseram ao cercaram-se de pompas, luxo e honras. A Arte também serviu a eles, ao conceder-lhe um status, uma autoridade de aparência sobrenatural. Nenhuma dúvida seria permitida sobre a perfeição deles.
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LdeM

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